MENSAGENS FINAIS

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A Natureza de Cristo Ontem, Hoje e Eternamente

Índice:

1. Cristo Antes da Encarnação

2. Cristo Durante a Encarnação

3. A Morte de Cristo

4. Cristo Após a Encarnação

O objetivo deste material é determinar, de acordo com a revelação bíblica, qual era a natureza de Cristo antes, durante e depois de Sua encarnação, a fim de auxiliar muitos irmãos que procuram sinceramente conhecer a verdade sobre todas as doutrinas bíblicas, a fim de adorar ao Deus Criador em espírito e verdade, segundo está escrito em João 4:24.

É também objetivo deste apresentar o tema de forma simples, com lições concisas e efetivas, de modo que possibilite a qualquer leitor leigo, que não possua conhecimentos de Grego ou Hebraico, a encontrar a verdade manifesta de forma clara nas Escrituras sobre este particular.

Que Deus abençoe a todos nesta leitura!

Jairo Carvalho

 

1. Cristo Antes da Encarnação

 

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez." João 1:1-3

No princípio, Jesus, o Verbo, estava com Deus o Pai e Ele também era Deus. Deus o Pai e Jesus Cristo eram "Deus". Havia alguma diferença entre Cristo e Deus?  Deixemos que a Bíblia nos responda. Esta afirma que Jesus é a sabedoria de Deus:

"mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus." I Corintios 1:24 

Lemos em Provérbios, capítulo 8, uma dissertação sobre Cristo, a sabedoria de Deus. Note o que afirma este texto:

"Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de conhecimentos e de conselhos.... Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça. Por meu intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da terra.....

O SENHOR me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra. Antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci. Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo." Provérbios 8: 12, 15, 16, 22-26

O texto acima é claro ao afirmar que Cristo, a Sabedoria de Deus, nasceu. O Espírito da Profecia confirma que o texto de Provérbios 8 mencionado acima refere-se a Cristo:

"E o Filho de Deus declara a respeito de Si mesmo: "O Senhor Me possuiu no princípio de Seus caminhos, e antes de Suas obras mais antigas. ... Quando compunha os fundamentos da Terra, então Eu estava com Ele e era Seu aluno; e era cada dia as Suas delícias, folgando perante Ele em todo o tempo". Prov. 8:22-30." Patriarcas e Profetas, pág. 34

Assim, não temos dúvidas de que é verdadeiro que Provérbios 8:22-30 disserta sobre Cristo. Uma vez que neste texto, mais especificamente no verso 24, lemos: "antes de haver abismos, eu nasci", e posto que tudo o que a Bíblia afirma é verdadeiro, temos como verdade que Jesus Cristo nasceu. Como foi que Jesus Cristo nasceu? As palavras proferidas por Ele mesmo, na oração sacerdotal, registradas em João capítulo 17, nos respondem:

...porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. João 17:8

Jesus Cristo disse que Ele saiu do Pai. Muitos aqui podem afirmar que não devemos entender o texto exatamente da forma que lemos. Entretanto, não são estas pessoas, e sim Cristo, que deve dizer como devemos entender os trechos da Bíblia. As palavras dita por Jesus ao fariseu ainda ecoam aos nossos ouvidos nos dias de hoje:

E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? Lucas 10:25, 26 (Versão Almeida Revista e Corrigida)

Segundo nos declara a Bíblia nas palavras do próprio Senhor Jesus, para compreendermos as verdades doutrinárias bíblicas, devemos entender os textos da forma que lemos. "Como lês?" Estas são as palavras de Jesus para nós hoje. Assim, quando lemos em João 17:8 que Jesus saiu de Deus, o Pai, entendemos exatamente isto: Jesus saiu de Deus, o Pai. Isto significa o mesmo que dizer que Jesus foi gerado pelo Pai. É por isso que a Bíblia afirma que Deus o Pai é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo:

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...." Efésios 1:3

Já vimos a pouco que, de acordo com as palavras de Cristo, a fim de compreender a verdade bíblica sobre assuntos concernentes às doutrinas bíblicas temos que entender os textos da forma que lemos. Assim, conforme está escrito acima, entendemos que Deus o Pai é Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em que sentido Ele é Pai de Jesus? No mesmo sentido que nossos pais terrenos são nossos pais. Lembremo-nos que a Bíblia foi escrita para os homens - desta forma, os comparativos que ela faz são os comparativos que os homens conhecem, para que eles (os homens) os compreendam. Deste comparativo entre a "paternidade terrena" e a "paternidade divina", podemos tirar lições muito importantes sobre a relação existente entre Cristo e Seu Pai.

A primeira delas é que, assim como nós somos seres humanos somos filhos de nossos pais porque fomos gerados por nossos pais, que eram seres humanos, Jesus é Deus porque foi gerado por Deus o Pai, que é Deus. Assim como nós possuímos a mesma natureza de nossos pais (a natureza humana pecaminosa), Jesus nasceu possuindo a mesma natureza de Seu Pai (a natureza divina). Por isso, após nascer, Jesus é um com Seu Pai em natureza.

Quando nascemos, tendo sido gerados a partir de nossos pais terrenos, herdamos também suas tendências pecaminosas, aquelas contra as quais teremos que lutar pelo poder que recebemos de Deus. A estas tendências herdadas por geração, chamamos de "tendências hereditárias". Da mesma forma, ao ser gerado pelo Pai, Jesus herdou as tendências de Seu Pai. Todavia, a Bíblia declara que o Pai não possuía qualquer tendência pecaminosa, e nem sequer podia ser tentado a pecar:

... Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta." Tiago 1:13

Assim, Jesus, ao ser gerado, herdou exatamente esta característica do Pai. Ele não podia sequer ser tentado a pecar. Ele herdou o mesmo caráter do Pai. Por isso, ao nascer, Jesus era um com o Pai em caráter.

Os filhos que amam muito seus pais tem o desejo de fazer a vontade deles. Chegamos a ver filhos que, por tanto amarem e conviverem com seus pais, têm desejos e propósitos muito semelhantes aos deles. Jesus foi gerado a partir de um Pai perfeitamente amoroso, e possuía perfeito amor por este Pai. Desta forma, os desejos do Pai eram perfeitamente manifestos em Seu Filho, que não procurava a própria glória, senão a daquele que o gerou. Jesus amava tanto a Seu Pai, que fazer Sua vontade era-lhe mais importante que o próprio comer. Ele testificou disto quando esteve na Terra:

Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra." João 4:34

O amor perfeito existente entre Cristo e Seu Pai é prova de que ambos possuem o mesmo propósito.

Assim, pelo ensinamento de que Deus o Pai gerou a Jesus Cristo, compreendemos que ambos são um em natureza, caráter e propósito. Isto confirma-nos o espírito da profecia:

"Antes da manifestação do mal, havia paz e alegria por todo o Universo. Tudo estava em perfeita harmonia com a vontade do Criador. O amor a Deus era supremo; imparcial, o amor de uns para com outros. Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai - um na natureza, no caráter e no propósito - o único Ser em todo o Universo que poderia entrar nos conselhos e propósitos de Deus." O Grande Conflito, pág. 493

O fato de Cristo ser o filho unigênito (o único gerado) de Deus o Pai, garantia que Ele era o único que teria a prerrogativa de ser um com o Pai, conforme atesta o texto acima. Ninguém mais possuiria esta prerrogativa, uma vez que ninguém mais foi gerado pelo Pai, e segundo a Bíblia não há nenhum outro Deus além do Pai:

todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos;" I Coríntios 8:6

Como foi Deus o Pai quem gerou a Jesus Cristo, foi Ele quem proporcionou a Cristo o Ser um com Ele. É por este motivo que Cristo declara:

"Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Eu e o Pai somos um." João 10: 29, 30

Fica então expressa a verdade de que foi o Pai quem deu a Jesus Cristo o "ser um" com Ele; e sendo Cristo o único Filho gerado pelo Pai, ninguém mais teria esta prerrogativa. O Pai, que é Deus, gerou a Cristo, que por ser da mesma natureza que Ele, também é Deus. Uma vez que ninguém mais teria a prerrogativa de Cristo (ser gerado a partir de um Deus), não poderia haver nenhum outro Deus além do Pai e do Filho.

Cada um de nós um dia fomos parte integrante do corpo de nossos respectivos pais terrenos. Neste sentido, pode-se dizer que temos a mesma idade que eles, porque uma vez, antes de ter o viver que temos na carne, existíamos como parte de nossos pais. Os Hebreus tinham este entendimento, de que os filhos antes de nascerem já existiam como parte de seus pais. O texto de Hebreus 7 nos confirma isto:

entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles recebeu dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas.

Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior.

Aliás, aqui são homens mortais os que recebem dízimos, porém ali, aquele de quem se testifica que vive.

E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão.” Hebreus 7:6-9

O texto acima aclara que Abraão pagou os dízimos ao sacerdote Melquisedeque, e que quando ele fez isto, Levi, que foi seu bisneto estava pagando os dízimos na pessoa de seu bisavô.

Da mesma forma que se considerava para com os seres humanos, temos que Cristo um dia foi parte integrante do Pai; e por isso podemos admitir que ele não é mais novo que Deus o Pai, porque mesmo antes de existir como ser independente do Pai, ele já existia, como parte do Pai, antes de ter sido gerado por Ele.

A Bíblia declara que todas as coisas foram criadas por meio de Cristo:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” João 1:1-3

Muitos entendem que não é possível harmonizar o fato de Jesus ter sido gerado pelo Pai e ao mesmo tempo ser co-eterno com Ele, sendo pré-existente e existente por Si mesmo. Todavia, uma vez que ambas as premissas da frase anterior (a geração e a eternidade de Cristo) são verdadeiras e a Bíblia é um todo verdadeiro, deve ser possível harmonizar ambas pela Bíblia. O fato de Jesus ter criado todas as coisas harmoniza estas duas premissas, e procuraremos explicar isto agora.

A palavra “eternidade” sugere-nos algo ou alguém que sempre existiu. Assim, esta palavra está associada ao tempo. Só posso dizer que algo ou alguém é “eterno”, ou sempre existiu quando sei que, sempre que houve tempo, esta coisa ou este alguém existiu. Todavia, o tempo é medido, ou contado, pelo movimento de coisas criadas, como por exemplo, os astros do céu. Nós, seres humanos, só sabemos contar o tempo medindo o movimento das coisas criadas. É desta forma que sabemos que o dia amanhece por volta das 6 horas da manhã, ou que escurece por volta das 6 horas da tarde, por exemplo. Portanto, percebemos que, se o tempo é contado pelo movimento das coisas criadas, e a palavra “eternidade” sugere algo ou alguém que sempre existiu enquanto houve tempo, temos finalmente que a palavra “eternidade” nos fala de alguém (Cristo, em nosso caso), que sempre existiu enquanto existiram coisas criadas. Mas se Cristo foi quem criou todas as coisas criadas pelo movimento das quais medimos o tempo, temos que Cristo criou o próprio tempo. Assim, enquanto existiu tempo, Cristo existiu. Concluímos portanto que Cristo é eterno porque, sempre que houve tempo, Ele existiu, sendo Ele mesmo o próprio criador do tempo. Como criador do tempo, Cristo não está restrito a ele; pelo contrário, Cristo é o Soberano dele. É por isso que lemos, no livro de Josué, que a pedido deste homem Cristo “parou o tempo” até que este concluísse a obra de dar cabo de seus inimigos:

Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom.

E o sol se deteve, e a lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no Livro dos Justos? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro.

Não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, tendo o SENHOR, assim, atendido à voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel.” Josué 10:12-14

A ciência, através de Albert Einstein em sua teoria da relatividade, provou que o tempo é uma propriedade da matéria. Se o tempo é uma propriedade da matéria, e foi Cristo que criou a própria matéria, pois “matéria” é aquilo de que são compostas as coisas criadas, Cristo é também o Autor do tempo, tendo existido sempre que houve tempo. Assim, mesmo pela análise dos postulados mais avançados da ciência, concluímos novamente que Cristo é eterno porque, sempre que houve tempo, Ele existiu, assim como havíamos concluído pela analogia simplificada do parágrafo anterior. Como foi Cristo quem criou a “matéria”, e o tempo é uma propriedade da matéria, antes dEle existir não havia tempo. A revelação bíblica no esclarece que Cristo nasceu antes que fosse criada a matéria, mencionada na passagem a seguir como sendo o “princípio do pó do mundo”:

Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci. Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo.” Provérbios 8:25, 26

Com base no que compreendemos até agora, como compreendemos que Cristo é co-eterno com o Pai? Simples. Uma vez que foi Cristo que criou o tempo, ao criar a matéria, o “princípio do pó do mundo” e o Pai já existia quando Cristo o criou, temos que ambos, o Pai e o Filho, existiram sempre que houve tempo. Concluímos pois que ambos são eternos, pois eternidade significa sempre existir, enquanto houver tempo. Assim, temos que Cristo é co-eterno com o Pai. Como o tempo não existia antes de Cristo existir, temos que o fato de Cristo ter sido gerado do Pai não nega o fato de Ele ser co-eterno com o Pai.

Entendendo que Cristo é o Autor do tempo (pois é o Autor da matéria, e o tempo é uma propriedade da matéria), compreendemos que o fato de Ele ter sido gerado a partir do Pai não Lhe tira o atributo “eterno”, pois quando Cristo foi gerado pelo Pai não havia tempo (este não havia ainda sido criado por Cristo). Como foi Cristo quem criou a matéria, o “princípio do pó do mundo”, da qual o tempo é uma propriedade, Cristo nasceu antes que haver tempo. Apenas após Cristo nascer é que o tempo foi criado.

Não é correto para nós sequer afirmar que o Pai existia “antes” de Cristo ser gerado, pois nós, seres humanos, empregamos a palavra “antes” sempre associada ao tempo. Para os seres humanos, algo que existia “antes” significa algo que existia em um tempo anterior, e não podemos representar desta forma o fato de o Pai existir e o Filho ser gerado a partir dEle. Sobre a geração e a eternidade de Cristo, é-nos correto apenas afirmar que:

Cristo foi gerado pelo Pai antes que houvesse tempo; Cristo, juntamente com o Pai criou “o princípio do pó do mundo”, a matéria a partir da qual Ele formou todas as coisas, da qual o tempo é uma propriedade. Então, Cristo, juntamente com o Pai, criou o tempo, e por isto ambos são eternos, pois co-existem desde que existe tempo.

É correto, portanto, afirmar que Jesus teve sua origem na eternidade, como afirma a Bíblia:

E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." Miquéias 5:2

Diferentemente de Cristo, Deus o Pai não possui origem. Disto atesta a escritura no livro de Hebreus, pelo comparativo que faz entre Deus o Pai e o sacerdote Melquisedeque:

Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou,  para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote perpetuamente." Hebreus 7:1-3

O Espírito da Profecia confirma que Melquisedeque é mencionado como tipo de Deus o Pai:

"Melquisedeque não era Cristo, mas era a voz de Deus no mundo, representante do Pai." Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 409

Pelo fato de Deus o Pai não ter origem, é Ele denominado "Ancião de Dias" em Daniel capítulo 7:

"Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente....

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele." Daniel 7:9

No texto acima, Jesus é denominado "Filho do Homem", enquanto Deus o Pai é chamado de "Ancião de Dias".

Do que estudamos nesta seção, concluímos o seguinte sobre a natureza de Cristo antes de Sua encarnação:

  • Cristo foi gerado pelo Pai antes que houvesse tempo;

  • Cristo, juntamente com o Pai, criou o tempo, e por isto ambos são eternos, pois co-existem desde que existe o “tempo”;

  • Como Cristo foi um filho gerado pelo Pai, que é Deus, Ele também é Deus, sendo um com o eterno Pai.

  • Por ser o Filho Unigênito, o único Filho gerado pelo Pai, que é Deus, Cristo é o único Deus que é “um” com o eterno Pai.

 

2. Cristo Durante a Encarnação

 

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai." João 1:14

O texto acima afirma que Jesus se fez carne ao vir à Terra. Como foi que isto aconteceu? Como foi que um Deus veio a nascer no útero de Maria? Este é processo é denominado de mistério da piedade pelo apóstolo Paulo (I Tim. 3:16), e a revelação nos declara que será objeto de estudo pelas eras eternas. Todavia, quando pesquisamos sobre este tema, poderemos obter mais e mais detalhes que nos pareciam antes ocultos. Uma vez que este será o tema de estudo pelas eras eternas, não possuímos a pretensão de esgotá-lo neste material, mas nos toca apresentar o que Deus nos permitiu perscrutar dele até o momento.

A Bíblia nos declara qual era o corpo que Jesus tinha quando veio à Terra:

Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste;” Hebreus 10:5

Pelo texto de Hebreus que lemos acima percebemos que Cristo diz que o Pai preparou um corpo para que Ele viesse ao mundo. Jesus veio ao mundo em um corpo que foi preparado pelo Pai. Era este um corpo humano? A revelação nos esclarece isto:

A Plenitude da Humanidade de Cristo

Não podemos compreender como Cristo Se tornou um pequeno e indefeso bebê. Ele poderia ter vindo à Terra com tal beleza que teria sido diferente dos filhos dos homens. Sua face poderia ter sido resplandecente de luz, e Sua forma poderia ter sido alta e bela. Poderia ter vindo de tal maneira que encantasse os que olhassem para Ele; esta não era, porém, a maneira planejada por Deus para que Ele viesse entre os filhos dos homens.

Ele devia ser semelhante aos que pertenciam à família humana e à raça judaica. Suas feições deviam ser como as dos outros seres humanos, e não devia ter tal beleza pessoal que o povo O assinalasse como diferente dos outros. Devia vir como alguém da família humana e colocar-Se como homem perante o Céu e a Terra. Veio para tomar o lugar do homem, empenhar-Se em seu favor, pagar o débito que os pecadores deviam. Levaria uma vida pura sobre a Terra e mostraria que Satanás proferira uma falsidade quando ele alegou que a família humana lhe pertencia para sempre, e que Deus não poderia arrebatar os homens de suas mãos.

Os homens contemplaram pela primeira vez a Cristo como um bebê, como uma criancinha....” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 127

Pela leitura do texto acima, percebemos que Cristo veio à Terra em um corpo humano, tal qual o de qualquer um de nós. Assim, no que tange ao corpo, Cristo era essencialmente homem. Resta-nos então saber o seguinte: uma vez que Jesus era Deus assim como o Pai é Deus, antes de vir à Terra, que “parte” de Jesus veio para a Terra, na encarnação? Tanto a Bíblia quanto a revelação trazem-nos revelações precisas quanto a isto. Primeiramente, apresentamos um texto bíblico:

pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,

a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” Filipenses 2:6-8

O texto acima atesta que Cristo esvaziou-se de si mesmo quando veio à Terra para assumir a forma humana. Isto significa que Ele deixou de ser o que era – um Deus passou a ser homem. A revelação confirma este entendimento:

Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana. Esse é o penhor de que Deus cumprirá Sua palavra. "Um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros." Isa. 9:6. Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando a mesma ao mais alto Céu.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 25

Sua natureza humana teria de passar pela mesma prova e provação que Adão e Eva. Sua natureza humana foi criada; ela nem sequer possuía os poderes angélicos. Era humana, idêntica à nossa.” Mensagens Escolhidas Vol. 3, pág. 129

Podemos entender figuradamente a encarnação de Cristo considerando a divindade de Cristo como se esta fosse a água contida em um copo. O fato de Ele esvaziar-se de Si mesmo para tornar-se homem, equivaleria ao copo ser esvaziado da água que contém. Ao ser o copo esvaziado, este fica sem água. Não é mais um copo de água, e sim um copo vazio. Assim, Cristo, que possuía a natureza divina, quando se esvaziou, deixou de tê-la. Utilizando ainda o comparativo do copo de água, temos que, se o copo foi esvaziado, a água que nele estava passou a estar em outro lugar. Da mesma forma, a divindade que estava em Cristo passou a não mais estar nEle – estaria em outro lugar.

Todavia, para onde poderia ter ido a divindade de Cristo quando este veio à Terra? Ela não poderia ter ficado em um outro lugar qualquer do Universo, subsistindo sozinha, enquanto Cristo estava como homem na Terra pois admitir isto seria admitir que Cristo teria sido em realidade dividido em dois – Deus e homem – o que é absurdo. Uma simples reflexão sobre o tema nos mostra que a divindade de Cristo, “a água do copo” de nosso exemplo, só poderia sair dEle para o lugar de onde ela uma vez se originou – do Pai. Rememoramos aqui que a divindade de Cristo saiu do Pai porque o próprio Cristo “saiu” do Pai, ou seja, foi gerado pelo Pai, conforme vimos na seção anterior, e de acordo com o que Ele diz de Si mesmo na Bíblia:

porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.” João 17:8

Assim, temos que a divindade de Cristo ficou no Pai. Isto sim era possível, porque o Pai uma vez originou a Cristo e Sua divindade. Após compreendermos isto, resta-nos ainda responder a uma pergunta:

Se a divindade, que era a própria natureza do Filho de Deus, ficou em Seu Pai, que parte de Cristo veio ao corpo preparado para Ele pelo Pai dentro do útero de Maria? A resposta mais elucidativa que encontramos é-nos dada por um texto da revelação:

Cristo fez um sacrifício infinito. Deu Sua própria vida por nós. Tomou sobre Sua alma divina o resultado da transgressão da lei de Deus. Pondo de lado Sua coroa real, dignou-Se a descer, passo a passo, até o nível da humanidade decaída.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 128

O texto acima afirma que Cristo tomou sobre Sua “alma divina” o resultado da transgressão da lei de Deus, ou seja, a natureza humana em seu estado decaído. Existem vários textos que afirmam que em Cristo combinaram-se a humanidade e a divindade. À luz do texto que lemos acima, podemos compreender que o que é mencionada como “divindade” interior de Cristo quando este estava como homem na Terra trata-se da “alma divina” mencionada no texto acima. O que entendemos por “alma divina”? Entendemos que este é o termo que descreve que a essência de Cristo, ou seja, aquilo que prova que o Filho de Deus, criador e soberano do Universo, era o mesmo bebê que se encontrava no útero de Maria e depois desenvolveu-se como homem até tornar-se um ser humano adulto.

Alguns crêem que, quando Cristo veio à Terra como um ser humano, Sua divindade estava não no Pai como vimos a pouco, mas dentro dEle mesmo. Entendem que Cristo, enquanto homem, retinha Sua divindade mas não usufruía dela para benefício próprio. Todavia, a revelação e os textos bíblicos nos mostram que isto não é verdade. Vejamos primeiramente um texto bíblico bastante esclarecedor:

Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.” Tiago 1:13

Percebemos, pela leitura do texto acima, que um Deus não pode sequer ser tentado pelo mal. Assim, houvesse Jesus estado com Sua divindade intrínseca porém não manifesta na Terra, e não haveria sequer a possibilidade de Ele ser tentado por Satanás. Ele simplesmente não sentiria qualquer força nas tentações de Satanás, pois não haveria possibilidade de Sua divindade ser tentada a pecar. Somente subsistindo como um homem e sem reter Sua divindade, poderia Jesus ser tentado. Um outro ponto bastante esclarecedor quanto a este ponto é-nos apresentado pela revelação:

Se Cristo possuísse um poder especial que o homem não tem o privilégio de possuir, Satanás ter-se-ia aproveitado desse fato. A obra de Cristo era tirar das reivindicações de Satanás o seu domínio sobre o homem, e só podia fazê-lo da maneira como Ele veio - como homem, tentado como homem e prestando a obediência de um homem.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 139

Pelo texto acima, percebemos que, se Jesus houvesse estado na Terra retendo Sua divindade e apenas não a usando, Satanás teria se aproveitado deste fato e acusado que Jesus não poderia ser o Salvador e substituto da raça humana. Isto porque poderia acusá-lo de ter usado Sua própria divindade para resistir as tentações, algo que o ser humano não poderia fazer. Desta forma, lançaria dúvidas por todo o Universo de seres criados, uma vez que nenhuma criatura poderia divisar com clareza até que ponto poderia o Filho de Deus ter utilizado Sua divindade intrínseca no conflito com as forças do mal. Somente subsistindo no mundo perfeitamente como um homem, sem reter a divindade, poderia Ele ser considerado o substituto perfeito do homem, o segundo Adão. Outra razão pela qual Jesus não poderia ter vindo à Terra com Sua divindade retida em Si mesmo era porque vindo desta forma Ele não refutaria uma acusação que fora feita por Satanás e subsistira por quatro mil anos, desde a queda de Adão, conforme nos atesta a revelação:

Satanás, o anjo caído, declarara que nenhum homem podia guardar a lei de Deus depois da desobediência de Adão. Ele alegava que toda a raça humana estava sob o seu domínio.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 136

Sempre devemos ser gratos porque Jesus provou para nós, por fatos concretos, que o homem pode guardar os mandamentos de Deus, contradizendo a falsidade de Satanás de que o homem não pode guardá-los. O Grande Mestre veio ao nosso mundo para estar à frente da humanidade, para assim elevar e santificar a humanidade por Sua santa obediência a todos os requisitos de Deus, mostrando que é possível obedecer a todos os mandamentos de Deus. Ele demonstrou que é possível uma obediência que dure toda a vida. Portanto Ele dá ao mundo homens escolhidos e representativos, como o Pai deu o Filho, para exemplificarem em sua vida a vida de Jesus Cristo. ... Quando atribuímos a Sua natureza humana um poder que não é possível que o homem tenha em seus conflitos com Satanás, destruímos a inteireza de Sua humanidade.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 139

Pela leitura dos textos acima, confirmamos que, para refutar a acusação de Satanás de que o homem caído não poderia guardar a lei de Deus, Jesus não só não poderia Ter vindo à Terra com Sua divindade como também não poderia ter vindo à Terra com a natureza do homem não caído, ou seja, com a natureza de Adão antes de sua queda. Isto porque a acusação de Satanás era de que o homem caído não poderia guardar os mandamentos de Deus:

Satanás, o anjo caído, declarara que nenhum homem podia guardar a lei de Deus depois da desobediência de Adão.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 136

Assim, para refutar esta acusação de Satanás, Jesus somente poderia ter vindo à Terra com a natureza humana igual à do Adão caído. Relativo ao fato de ter Jesus vindo à Terra com a natureza do Adão caído, vamos procurar extrair luz bíblica que corrobore esta afirmação.

Em que carne veio Jesus à Terra? Era a carne pecaminosa que nós conhecemos, ou existia outra? Deixemos que as Escrituras nos respondam. Em Efésios 6:2, lemos:

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." Efésios 6:11, 12

Uma análise cuidadosa deste texto nos dará a resposta que precisamos. Nele, o apóstolo Paulo afirma aos crentes Efésios que a luta deles, os cristãos, não era contra a carne e o sangue, e sim contra os principados e potestades, referindo-se a Satanás e seus anjos. Em outras palavras, Paulo está afirmando que a luta dos cristãos não era contra os outros seres humanos enganados e iludidos pelo diabo que tinham possibilidade de se arrepender e serem salvos, e sim contra o próprio diabo e seus anjos, uma vez que estes não possuem possibilidade de salvação e desejam levar tantos quantos puderem ao inferno com eles. Assim, o termo "carne", é utilizado para denominar homens com natureza pecaminosa. O texto de Romanos, capítulo 7 expressa este conceito de forma mais clara:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado." Romanos 7:14

A Palavra de Deus, pelo que lemos no texto acima, atesta que o homem carnal é vendido à escravidão do pecado. Uma vez que Jesus à Terra em carne, Ele veio com a natureza carnal, aquela mesma que segundo lemos acima é vendida à escravidão do pecado, ou seja, uma natureza pecaminosa. Assim, Jesus veio à Terra em natureza pecaminosa.

Podemos compreender qual é a natureza que Jesus adotou quando veio em carne à Terra de outra forma mais simples. Leiamos juntos o seguinte texto de Hebreus:

"Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo,  livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida." Hebreus 2: 14, 15

O texto acima é bem claro. Afirma que, assim como os homens participam de carne e sangue, Jesus igualmente participou. Ora, que natureza tem os que participam da carne e sangue? Já vimos anteriormente que "carne e sangue" se referem à natureza pecaminosa do homem, segundo o texto de Efésios capítulo 6:

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne [seres humanos pecadores], e sim contra os principados e potestades..." Efésios 6:11, 12

O texto de I Coríntios 15:50 é ainda mais esclarecedor, pois afirma que a "carne e o sangue", aqueles dos quais Jesus participou, não podem herdar o reino de Deus:

"Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção." I Coríntios 15:50

Jesus participou da carne e sangue igualmente como todos os seres humanos participam. A natureza humana representada pelos termos "carne e sangue", que foi a natureza humana que Cristo assumiu, é aquela que não pode herdar o reino de Deus. Qual é a natureza humana que não pode herdar o reino de Deus, a natureza de Adão antes de sua queda ou após a sua queda? O livro de Gênesis nos esclarecerá:

"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." Gênesis 1: 26, 27

"Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.

E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.

Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar" Gênesis 2:7, 8, 15

Vimos pela leitura dos textos acima que Deus criou Adão e Eva, colocou-os no jardim do Éden e o deu a eles para que fosse sua possessão, a fim de que o administrassem. Deus os fez sem pecado. Assim, o Éden era o reino que Deus lhes havia dado. Por estarem sem pecado, podiam ver a Deus e ouvir diretamente a sua voz, sendo que Ele lhes vinha visitar:

"Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia..." Gênesis 3:8

Ao caírem em pecado, perderam sua natureza incontaminada, que não conhecia pecado, e passaram a ter uma natureza escrava do pecado, vendida às tentações de Satanás, incapaz de resistir por sua própria força aos ardis do inimigo. Esta natureza é chamada de natureza decaída. Quando perderam sua primeira natureza e passaram a possuir a natureza decaída, Adão e Eva perderam também o reino que Deus lhes havia dado:

"Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.

O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado.

E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida." Gênesis 3:22-24

Adão e Eva não podiam mais herdar o reino de Deus, o Éden que Ele havia criado, pois uma vez que comessem do fruto da árvore da vida estando em seu pecado decaído, escravos do pecado, viveriam eternamente e perpetuariam o pecado, trazendo miséria eterna para o Universo. Adão e Eva, em sua natureza humana decaída, não podiam herdar o reino de Deus. Vimos a pouco que a Bíblia afirma que a "carne e o sangue" não podem herdar o reino de Deus:

"Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus," I Coríntios 15:50

Assim temos que Adão e Eva, após caírem em pecado, ou seja, ao estarem em sua natureza humana decaída, colocaram-se exatamente na condição de "carne e sangue" apresentada pelo texto acima, pois não podiam mais herdar o reino de Deus, o Éden, que um dia fora seu, assim, como o texto acima declara que a "carne e sangue" não podem herdar o reino de Deus. Vimos a pouco a declaração bíblica de que Jesus participou igualmente da "carne e sangue" quando esteve na Terra:

"Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo," Hebreus 2: 14, 15

Concluímos pois que, se "carne e sangue" exemplifica a natureza de Adão e Eva após a sua queda, e Jesus participou igualmente da "carne e sangue", Jesus veio a Terra com a natureza de Adão após a sua queda. É por isso que a Bíblia associa o nome de Adão com a entrada do pecado no mundo, conforme lemos no livro de Romanos:

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.

Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei.

Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.

Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.” Romanos 5:12-15

O texto acima no apresenta Adão como sendo o “introdutor” do pecado no mundo. Assim, considera no comparativo que faz, o Adão transgressor, “caído”, com a natureza que tinha após a sua queda, com Cristo. Assim, o texto acima nos coloca que Cristo veio tomar o lugar do Adão caído, este que era “carne pecaminosa”. O mesmo comparativo, de Cristo em carne pecaminosa com Adão após a sua queda é encontrado no livro de I Coríntios:

Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.

Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.” I Coríntios 15: 21, 22

Um outro verso do livro de Hebreus capítulo 2 esclarece o ponto em questão de tal forma que põe termo ao assunto. Referindo-se ainda a Cristo, a palavra de Deus declara:

"Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão.

Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo." Hebreus 2: 14-17

Cristo, em TODAS as coisas, se tornou semelhante aos seus irmãos, os seres humanos caídos. Não foi apenas em alguns aspectos que Jesus se assemelhou ao homem. Foi em todos os aspectos. Note que o texto foi escrito pelo apóstolo Paulo, que era um homem caído. Um homem caído, Paulo, possuidor de natureza humana pecaminosa, coloca a afirmação no tempo presente de que Cristo se tornou semelhante a nós em todas as coisas. Não afirma que Jesus foi semelhante ao homem Adão antes de sua queda, num longínquo passado, mas sim que Ele foi semelhante aos seres humanos contemporâneos de Paulo, que eram todos seres humanos caídos, possuidores de natureza humana pecaminosa. Concluímos pois que, uma vez que a Palavra de Deus expressa no texto acima afirma que Cristo se tornou semelhante em todas as coisas aos seres humanos de natureza pecaminosa, Cristo veio à Terra em carne pecaminosa. Podemos ainda efetuar a confirmação de que Cristo veio à Terra em carne pecaminosa através de uma outra comparação bíblica. A Bíblia nos define como pode ser alguém tentado:

Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” Tiago 1:14

O texto bíblico nos afirma que cada um é tentado pela sua própria cobiça. Segundo este texto, o ser humano é tentado pela sua própria cobiça. A palavra “cobiça” vista no texto pode ser entendida no sentido de “vontade da carne”. Satanás sugestiona o homem a condescender com esta vontade, esta “cobiça”, quando tenta o ser humano. Caso ele seja bem sucedido, diz-se que o ser humano foi “seduzido por sua cobiça”, conforme nos expressa a Bíblia:

Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” Tiago 1:15

A “cobiça”, ou seja, a vontade da carne, uma vez atendida pelo homem, gera as obras da carne, que são pecado:

Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.” Gálatas 5:19-21

Assim, temos a verdade bíblica de que o homem só pode ser tentado por sua vontade carnal, descrita por Tiago como sendo “cobiça”. O homem possui esta vontade da carne porque ele mesmo é carne:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.” Romanos 7:14

O homem só é carne e tem as vontades da carne porque foi gerado por pais que são “carne” e possuem as vontades da carne. Assim, temos que o homem nasce e herda as “vontades da carne” de seus pais. Estas “vontades da carne” são também chamadas de tendências hereditárias para o pecado. Note que estas tendências para o pecado não são pecado. Deus não culpa o homem por ter herdado estas tendências para o pecado, porque segundo está escrito em sua palavra os filhos não devem pagar pela iniqüidade dos pais:

A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.” Ezequiel 18:20

Uma vez que o homem nasce com as “vontades da carne”, ou seja, com a “cobiça”, conforme nos afirma a Bíblia no texto de Tiago que lemos a pouco, porque possui tendências hereditárias para o pecado – as vontades da carne – que herdou de seus pais terrenos, temos que a palavra “cobiça” vista no texto de Tiago representa as próprias tendências herdadas para o pecado. Assim, o dizer bíblico que o homem é tentado por sua cobiça significa o mesmo que dizer que o homem é tentado por suas tendências herdadas para o pecado. Concluímos portanto que, segundo o texto de Tiago, o homem pode ser tentado somente se tiver ao menos tendências herdadas para o pecado, denominadas de cobiça:

Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” Tiago 1:14

A Bíblia nos declara que Jesus foi tentado assim como nós somos tentados, e por isso pode nos socorrer quando somos assediados pelo inimigo:

Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.” Hebreus 2:18

Uma vez que a Bíblia nos declara que o homem é tentado pela sua própria cobiça, ou seja, suas tendências herdadas para o pecado, e Jesus foi tentado como os outros homens, temos que Jesus foi tentado pela “sua própria cobiça”, ou seja, pelas tendências para o pecado herdadas de Seus pais. Uma vez que Seu Pai, que era Deus, não possuía pecado, Jesus herdou as tendências para o pecado de Maria, sua mãe humana. Neste ponto do estudo, precisamos apenas deixar claro que, herdar as tendências para o pecado que tinham os pais, não significa herdar a culpa pelos pecados deles, ou seja, tornar-se pecador pelos pecados que os pais cometeram. Segundo a Bíblia, cada um só se torna pecador pelos pecados que ele próprio cometer:

A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.” Ezequiel 18:20

A revelação atesta claramente que Jesus não herdou a “culpa” por pecados. Isto porque só é culpado quem transgride a lei de Deus e peca. Como Jesus não pecou, era inocente de toda a culpa:

Cristo não somente era o Sacrifício, mas também o Sacerdote que ofereceu o sacrifício. "O pão que Eu darei pela vida do mundo - disse Ele - é a Minha carne." João 6:51. Ele era inocente de toda culpa.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 141

Discernimos então que herdar o “mal”, ou seja, herdar as vontades da carne de nossos pais, não significa herdar a “culpa” pelos pecados deles. Jesus, uma vez que veio ao mundo com a natureza da humanidade decaída, herdou o “mal”, as tendências para o pecado de sua mãe, Maria, e de seus antepassados; todavia, não herdou a culpa.

O entendimento de que Cristo veio à Terra com a natureza do Adão caído é amplamente corroborado pelo Espírito da Profecia. Por isso, trazemos a lume apenas o texto que julgamos ser mais conclusivo:

"Tenho recebido cartas, afirmando que Cristo não podia ter tido a mesma natureza que o homem, pois nesse caso, teria caído sob tentações semelhantes. Se não possuísse natureza humana, não poderia ter sido exemplo nosso. Se não fosse participante de nossa natureza, não poderia ter sido tentado como o homem tem sido. Se não Lhe tivesse sido possível ceder à tentação, não poderia ser nosso Auxiliador. Era uma solene realidade esta de que Cristo veio para ferir as batalhas como homem, em favor do homem. Sua tentação e vitória nos dizem que a humanidade deve copiar o Modelo; deve o homem tornar-se participante da natureza divina." Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 408

Ellen G. White, a autora destes livros citados, possuía uma natureza humana pecaminosa tal como nós, e no texto acima percebemos que ela afirma que Cristo possuía a mesma natureza que ela e seus contemporâneos.

"Em Cristo combinaram-se divindade e humanidade....

Mas o plano de Deus, delineado para a salvação do homem, previa que Cristo conhecesse a fome, a pobreza e todos os aspectos da experiência do homem. Resistiu Ele à tentação, mediante o Poder que o homem também pode possuir. Apoiou-Se no trono de Deus, e não existe homem ou mulher que não possa ter acesso ao mesmo auxílio, pela fé em Deus. Pode o homem tornar-se participante da natureza divina; não vive uma alma que não possa chamar o auxílio do Céu, quando tentada e provada. Cristo veio para revelar a fonte de Seu poder, a fim de que o homem não confiasse jamais em suas capacidades humanas desajudadas.

Os que querem vencer devem empenhar ao máximo todas as faculdades de seu ser. Devem lutar, de joelhos diante de Deus, pedindo poder divino. Cristo veio para ser nosso exemplo e nos revelar que podemos ser participantes da natureza divina. Como? - Tendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo. Satanás não alcançou a vitória sobre Cristo. Não pôs o pé sobre a alma do Redentor. Não atingiu a cabeça, se bem que tenha ferido o calcanhar. Cristo, por Seu exemplo, tornou evidente que o homem pode permanecer íntegro. É possível aos homens ter poder para resistir ao mal - poder que nem a Terra nem a morte nem o inferno conseguem dominar; poder que os colocará onde alcancem vencer, como Cristo venceu. Neles pode combinar-se a divindade e a humanidade." Mensagens Escolhidas, Vol. 1, págs. 408, 409

Pelo texto acima percebemos que o Espírito da Profecia confirma que exatamente porque Cristo veio com a mesma natureza pecaminosa que nós possuímos, cada um de nós pode resistir ao mal tal como Ele resistiu. Pode-se combinar a divindade e a humanidade em nós tal como estas foram combinadas em Cristo. A revelação nos dá mais detalhes sobre como a divindade e a humanidade foram combinadas em Cristo:

Ele nos dá um exemplo de perfeita obediência. Tomou providências para que nos tornemos participantes da natureza divina, e nos assegura que podemos vencer como Ele venceu. Sua vida testificou que com a ajuda do mesmo poder divino que Cristo recebeu, é possível ao homem obedecer à lei de Deus.” Mensagens Escolhidas, Vol. 3, pág. 132

Note que o texto acima afirma que Cristo “recebeu” poder divino quando esteve como homem na Terra. Que poder era este e como Ele o recebeu? A revelação nos responde:

Mas nosso Salvador recorria a Seu Pai celestial em busca de sabedoria e força para resistir ao tentador e vencê-lo. O Espírito de Seu Pai celeste animava e regia Sua vida.” Mensagens Escolhidas Vol. 3, pág. 134

Pelo texto acima, percebemos que a revelação atesta claramente que a divindade combinava-se com a humanidade de Cristo porque o Espírito do Pai habitava no Filho e atuava através do Filho. Da mesma forma, ao nos colocarmos nas mãos de Deus, o Espírito do Pai pode fluir através do Filho de Deus, munindo-nos de forças para enfrentar e resistir ao tentador da mesma forma que Cristo o fez:

Cristo, por Seu exemplo, tornou evidente que o homem pode permanecer íntegro. É possível aos homens ter poder para resistir ao mal - poder que nem a Terra nem a morte nem o inferno conseguem dominar; poder que os colocará onde alcancem vencer, como Cristo venceu. Neles pode combinar-se a divindade e a humanidade." Mensagens Escolhidas, Vol. 1, págs. 409

Como pode Cristo, um Deus, tornar-se um ser humano em carne pecaminosa, exatamente como nós, para ser um exemplo perfeito de nossa condição? Como já dissemos ao início desta seção do estudo, isto é definido pelo Bíblia como sendo um mistério:

Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória." 1 Timóteo 3:16 

Uma vez que a própria Bíblia afirma ser este um mistério, limitamo-nos a aceitá-lo como tal.

Do que estudamos nesta seção, concluímos o seguinte sobre a natureza de Cristo durante Sua encarnação:

  • Cristo veio à Terra em um corpo humano, preparado por Seu Pai, e colocado no útero de Maria;

  • Cristo era totalmente homem enquanto esteve na Terra, sendo que Sua divindade ficou em Seu Pai, que um dia a havia originado, enquanto Sua alma divina veio habitar o corpo humano que Seu Pai havia preparado no útero de Maria;

  • Cristo veio com a natureza do homem caído, semelhante à de Adão após a sua queda; herdou as tendências para o pecado de Maria e seus antepassados, mas não herdou a culpa pelos pecados de seus pais terrenos. Era inocente de toda a culpa, porque Ele mesmo nunca pecou.

 

3. A Morte de Cristo

 

Vimos na seção anterior que Cristo, quando esteve na Terra era um ser humano como nós. Os seres humanos criados têm sua vida composta de “sopro de vida” + “pó da terra”. O livro de Gênesis nos retrata isto:

Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” Gênesis 2:7

Se subsistia como homem na Terra, Cristo era também “pó da terra” + “sopro de vida”, ou “espírito”. A palavra grega utilizada para denominar “espírito” ou “sopro de vida” é a mesma – “pneuma”. Assim, é correto igualarmos o sentido das palavras “espírito” e “sopro de vida” ao buscarmos compreender o novo testamento, uma vez que este foi escrito quase em sua totalidade no idioma grego. Entendendo isto, temos que, sendo Cristo um ser humano quando esteve na Terra, no momento de sua morte temos que seu “espírito”, ou “sopro de vida” deveria voltar para Deus, que o deu, como ocorre com todos os homens, e seu corpo ficar inanimado, sem vida, condenado a voltar ao pó da Terra com o passar do tempo. A Bíblia declara que foi exatamente isto que aconteceu quando Cristo morreu, provando que Ele era tão humano quanto nós:

Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.” Lucas 23:46

O texto acima nos coloca de forma clara que a morte de Cristo se deu como se dá a morte de um ser humano. O “espírito”, o “sopro de vida” foi entregue ao Pai e o corpo pendeu imediatamente sobre o madeiro, sem vida. O ser humano Cristo Jesus estava morto.

Qual foi a morte que Jesus morreu, a primeira morte ou a segunda morte? Um estudo do santuário nos auxilia a esclarecer este tema. No cerimonial típico, o sacrifício que mais detalhadamente reproduzia a morte do Salvador era o sacrifício da novilha vermelha, descrito em Números capítulo 19. Neste sacrifício, uma novilha vermelha, simbolizando a Cristo, que receberia os pecados do mundo, era tomada para o sacrifício. Esta novilha deveria ser sem defeito, simbolizando a Cristo, que não pecaria (verso 2). A novilha era então levada para fora do arraial e lá sacrificada, simbolizando que Jesus Cristo seria crucificado no gólgota, fora dos portões da cidade de Jerusalém.

Após o sacrifício, a novilha sem vida era totalmente queimada. Isto simbolizava que tipo de morte Jesus Cristo iria sofrer. A Bíblia atesta que o lago de fogo representa a segunda morte, a morte eterna:

Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo.” Apocalipse 20:14

Como o lago de fogo é a segunda morte, o fato de a novilha ser queimada representava que Cristo sofreria a segunda morte, a separação total de Deus o Pai, a fonte mesmo de Sua vida quando subsistindo como ser humano na Terra. Assim, Ele estaria sofrendo aquilo que os seres humanos pecadores deveriam sofrer para que estes, por Seu sacrifício, pudessem viver e escapar desta horrível condenação. A segunda morte representa também completa ausência de existência. Ao compreendermos que Jesus sofreu a segunda morte, temos como ainda mais claro o fato de que sua divindade, representada pela “água do copo” no exemplo que apresentamos na seção anterior, só poderia estar no Pai, pois caso contrário Ele não poderia sofrer a segunda morte, uma vez que é impossível que um Deus, que é vida por Sua própria natureza, morra. Um ser que possuísse uma divindade intrínseca, própria, não poderia morrer a segunda morte, como Cristo sofreu.

Do que estudamos nesta seção, concluímos o seguinte sobre a morte de Cristo:

  • Cristo morreu como um ser humano; assim seu espírito foi para o Pai e seu corpo pendeu sem vida no madeiro;

  • Cristo sofreu a segunda morte, equivalente ao lago de fogo, quando deu sua vida por nós na cruz.

 

4. Cristo Após a Encarnação

 

A dificuldade de se harmonizar dois textos bíblicos aparentemente conflitantes faz com que existam diferentes correntes de pensamento sobre a natureza de Cristo após a Sua encarnação. O primeiro texto que trazemos a lume está no evangelho de João:

Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.

Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” João 10:17, 18

Neste texto, Cristo afirma que Ele tem autoridade para entregar Sua vida e também para voltar a tomá-la. Dá-nos portanto a impressão de que foi Cristo que se “auto-ressuscitou” após a Sua morte. Agora leia o segundo texto:

A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.” Atos 2:32

O texto acima afirma claramente que foi o Pai quem ressuscitou a Cristo. Assim, temos dois textos cujo entendimento é aparentemente conflitante. Como resolvemos esta questão? Não podemos resolve-la a menos que a Bíblia a resolva para nós, e para nossa alegria é exatamente isto que ela faz. Leiamos o texto de Atos 13:

Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais,

como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.

E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi.” Atos 13:32-34

O texto acima afirma que, quando Deus o Pai ressuscitou a Cristo dentre os mortos, disse: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Sabemos que, no princípio, Cristo foi gerado pelo Pai. Vimos que isto era como se o Pai houvesse gerado a Seu Filho a partir de uma parte de Si mesmo. Como o Pai, por ser Deus, possui a vida em Si mesmo, ao retirar de Si uma parte, esta também possui vida em si mesma. Como gerou a Cristo a partir de uma parte de Si mesmo, Seu Filho passou a ter vida em Si mesmo. É por este motivo que a Bíblia nos afirma:

Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.” João 5:26

Vimos, pelo estudo das seções anteriores, que, ao morrer na cruz, Jesus sofreu a segunda morte, que significa também a completa ausência de existência. Vimos também que, a divindade de Cristo, a “água do copo”, estava no Pai desde o momento em que Cristo veio como um homem na Terra. Ao gerar a Cristo pela primeira vez, Deus o Pai lhe concedeu a divindade, a “água do copo”. Quando veio a Terra, Cristo devolveu esta “água”, a Sua divindade, para o Pai, pois esvaziou-se de Si mesmo.

Utilizando ainda de nosso exemplo para facilitar a compreensão, temos que, uma vez que a divindade de Cristo, a “água do copo”, estava no Pai, e o corpo inanimado e morto de Cristo estava na Terra, para gerar a Cristo novamente bastaria ao Pai colocar a “água do copo”, aquela mesma que havia recebido de Cristo quando Ele veio para a Terra, naquele corpo humano inanimado que jazia na tumba de José de Arimatéia. Assim, o Pai estaria repetindo o mesmo processo que realizou uma vez, quando gerou a Cristo, antes que houvesse. Mundo. Por isso, o Pai, ao colocar ao devolver a Cristo a divindade, colocando a “água” no Seu corpo humano inanimado, pode em verdade dizer: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Note que o apóstolo Paulo compreendeu isto, pois afirma que o Pai proferiu esta frase quando ressuscitou a Cristo dentre os mortos.

Quando o Pai “gerou” novamente Seu Filho, colocando a “água” a divindade, no corpo humano inanimado de Cristo, esta “água”, esta divindade, por ser uma própria parte do Pai, que é o doador da vida, foi capaz de reerguer e ressuscitar aquele corpo humano inanimado. Por isso, ao mesmo tempo que é correto afirmar que Deus o Pai ressuscitou a Cristo, pois o gerou novamente após Sua morte, é correto afirmar que Cristo ressuscitou pelo Seu próprio poder, à luz do texto de João 10:17, 18 que apresentamos no início desta seção. Compreendemos então que a própria oração sacerdotal de Cristo, que encontramos em João capítulo 17 foi atendida no momento em que o Pai gerou novamente a Cristo, por ocasião de Sua ressurreição. Jesus havia pedido o seguinte em sua prece ao Pai:

e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” João 17:5

Jesus, antes mesmo de Sua morte, pede ao Pai que o glorifique com a glória que Ele possuía com Seu Pai antes que houvesse mundo. Mas que glória Cristo possuía com Seu Pai antes que houvesse mundo? O texto de Provérbios 8 nos responde:

Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci.

Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo.” Provérbios 8:25, 26

Antes que houvesse mundo, Cristo foi gerado pelo Pai. Assim, quando Ele pede ao Pai que o glorifique com a glória que possuía antes que houvesse mundo, está também pedindo ao Pai que o gere novamente. Como vimos anteriormente, esta oração foi então atendida por ocasião de Sua ressurreição.

Uma vez que, por ocasião da ressurreição de Cristo, o Pai o gerou novamente, mas desta vez dentro de um corpo humano, aquele corpo humano preparado pelo Pai que lhe servira de habitação durante todo o período em que ele estivera na Terra, temos que um Deus, Cristo Jesus, gerado pelo Pai passou a residir em um corpo humano. Isto explica o texto de Colossenses:

Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.” Colossensses 2:8, 9.

Verificamos que o texto acima é verdadeiro no seu sentido literal, ou seja, que em Cristo, passou a habitar, em um corpo humano, toda a plenitude da Divindade. A humanidade de Cristo ficaria para sempre retida, conforme atestam as palavras da revelação:

Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 25

Uma vez que Sua divindade estaria para sempre habitando em um corpo humano, é verdadeiro afirmar, como o texto acima o faz, que Cristo reteria para sempre a Sua natureza humana. Ao mesmo tempo que o fato de Ele reter Sua natureza humana é uma prova pelas eras eternas de que Ele é nosso penhor, Sua divindade representa a certeza do auxílio divino, uma vez que, tendo Ele sido tentado como nós, pode conceder Seu poder divino a cada um de nós de acordo com a nossas necessidades, pois Ele as conhece. O texto da revelação apresentado a seguir representa de forma mais adequada a natureza e o ministério de Cristo atual:

Cristo é a escada que Jacó viu, tendo a base na Terra, e o topo chegando à porta do Céu, ao próprio limiar da glória. Se aquela escada houvesse deixado de chegar à Terra, por um único degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que, revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer. Feito "em semelhança da carne do pecado" (Rom. 8:3), viveu uma vida isenta de pecado. Agora, por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós. Manda-nos que, pela fé nEle, atinjamos à glória do caráter de Deus. Portanto, devemos ser perfeitos, assim como "é perfeito vosso Pai que está nos Céus". Mat. 5:48.” O Desejado de Todas as Nações, págs. 311, 312

Por ser homem e subsistir como homem após Sua ressurreição, Paulo sobre Ele afirma:

Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,” I Timóteo 2:5

Por ser Deus mesmo após sua ressurreição, Paulo também faz a seguinte declaração a Seu respeito:

Nele, tudo subsiste.” Colossensses 1:15

Do que estudamos nesta seção, concluímos o seguinte sobre a natureza de Cristo após a encarnação:

  • Cristo, tendo sido gerado pelo Pai antes da fundação do mundo, foi novamente gerado pelo Pai por ocasião de Sua ressurreição;

  • Ao ser novamente gerado, sua divindade ficaria para sempre retida no corpo humano formado por Seu Pai, no qual Ele habitou durante Seu ministério na Terra;

  • Por estar Sua divindade habitando em Seu corpo humano, temos como verdadeiro que em Cristo habita corporalmente (em um corpo humano) toda a plenitude da Divindade;

  • A humanidade de Cristo é a nossa certeza de que nosso Salvador compadece-se de nós em nossas fraquezas, enquanto Sua Divindade é a certeza de auxílio divino para vencer o inimigo em todas as tentações;

  • Cristo é Deus habitando em corpo humano – Emanuel, que quer dizer: “Deus Conosco”.

Finalizamos o estudo com as palavras inspiradas escritas pelo apóstolo Paulo, este que, mesmo sabendo muito sobre a natureza e obra de nosso amado Salvador foi levado a exclamar:

Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.” I Timóteo 3:16

Ao nosso bendito Deus e Pai e ao nosso maravilhoso Senhor Jesus Cristo seja a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

 

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