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O Dízimo e o Seu Uso na Corporação Adventista

Capítulo I - O Dízimo na Bíblia

 

O que a Bíblia ensina sobre o dízimo? Dízimo é lei moral ou cerimonial? Pense um pouco nestas perguntas antes de continuar a leitura. Para quem deve ser entregue e como deve ser aplicado o dízimo? Após o estudo deste capítulo você concluirá que o dízimo sempre esteve relacionado ao sacerdócio e teve finalidades diferentes em momentos diferentes da história. As finalidades para o dízimo foram determinadas em função da estrutura social e do tipo de administração religiosa da época. No final do capítulo chegaremos à conclusão de que o dízimo hoje deve ser utilizado apenas para:

·          Sustento de obreiros evangélicos que trabalham no campo.

·          Habilitação destes obreiros e apoio material para a obra de pregação do evangelho.

Este primeiro capítulo é, na verdade, um estudo bíblico sobre o dízimo. Um estudo que, por motivos óbvios, não é feito nas igrejas. Muito provavelmente você ainda não ouviu nem ouvirá um pastor pregar sobre o dízimo usando todos os versículos que usaremos. Este capítulo deve ser estudado junto com a Bíblia. Se sua Bíblia não está acessível agora, então não deixe de estudar novamente este capítulo quando tiver uma em mãos. Após um estudo abrangente da Bíblia vamos usar também o Espírito de Profecia para nos auxiliar a aplicar aos nossos dias os princípios que aprendermos no estudo bíblico. O Espírito de Profecia não traz absolutamente nada de novo, apenas confirma e esclarece o que a Bíblia já ensinou sobre o dízimo.

 

Dízimo: Lei Moral ou Lei Cerimonial?

Uma vez perguntei a alguns oficiais da igreja se a lei do dízimo fazia parte da lei moral ou da lei cerimonial. Houve certa hesitação. Sabemos que nenhum dos dez mandamentos ordena a devolução do dízimo. Seria, porventura, a ordem para dizimar, parte da lei cerimonial também chamada lei de Moisés? Aqueles que afirmam que o dízimo não faz parte da lei moral hesitam em afirmar que ele se inclui na lei cerimonial. Se tomassem esta posição estariam afirmando que o dízimo foi abolido na cruz, desta forma estaríamos desobrigados de devolver a décima parte de nossas rendas para o Senhor.

Na tentativa de defender a perpetuidade da lei do dízimo, alguns argumentavam que Jesus havia se posicionado favoravelmente à devolução do dízimo.[1] De fato Cristo apoiou a devolução do dízimo, mas isto não serve para provar que o dízimo ainda está em vigor pois devemos lembrar que Cristo viveu enquanto a lei cerimonial vigorava. Portanto o fato de Cristo apoiar a lei do dízimo não prova que esta lei não faça parte da lei cerimonial. Conforme exigência da lei mosaica, Cristo foi circuncidado ao oitavo dia.[2] Cristo, após curar um leproso, pediu a ele que se apresentasse ao sacerdote e oferecesse a oferta especificada na lei de Moisés.[3] O fato de Cristo ter apoiado a lei mosaica não prova que ela esteja ainda em vigor, mesmo porque o apoio de Cristo a tal legislação deu-se antes de sua morte. Desta forma não podemos concluir que o dízimo ainda esteja em vigor somente pelo fato de Cristo tê-lo apoiado em algum momento de seu ministério antes de Sua morte.

Outros argumentam que o dízimo não faz parte da lei de Moisés, pois Abrão e Jacó dizimaram antes de Moisés e do estabelecimento das leis mosaicas. Esta argumentação, embora mais convincente, não prova que a lei para dizimar ainda esteja em vigor. Abrão e Jacó dizimavam, mas também ofereciam sacrifícios de animais em altares. Isto nos dá evidências de que as leis cerimoniais existem antes mesmo de Moisés e do estabelecimento do santuário terrestre. Ou seja, o simples fato do dos patriarcas terem dizimado antes do estabelecimento da lei de Moisés não serve como prova de que o dízimo é válido até hoje. Permanece a questão: O dízimo é lei cerimonial? Foi abolido?

O debate que mantive com nossos irmãos adventistas e a diferença de opiniões entre eles foi útil para nos convencer de um fato: Muito se fala, muito se prega sobre o dízimo, mas pouco ou nenhum estudo profundo é desenvolvido. É necessário um estudo mais abrangente sobre o dízimo, sobre seu propósito original e sobre sua aplicação hoje. Infelizmente este tema tem sido abordado muito superficialmente pelos nossos pastores, pregadores e instrutores bíblicos. A maioria dos versos bíblicos que fazem referência ao dízimo não é citada nas pregações sobre o tema, pois sugere uma aplicação diferente da que tem sido feita atualmente pela Corporação. Malaquias 3:10 é mencionado freqüentemente em nossos sermões sobre mordomia e estudos bíblicos. Já os demais trechos sobre o dízimo são ignorados. Os motivos para esta omissão se tornarão evidentes a seguir.

 

O Dízimo No Velho Testamento

Para uma compreensão adequada sobre o dízimo no Velho Testamento, não podemos abrir mão do estudo de todas as referências do Pentateuco acerca deste tema das principais referências do Velho Testamento.

 

Abrão, Melquisedeque e as Ordens Sacerdotais (Gên. 14)

O primeiro trecho bíblico a respeito do dízimo está em Gênesis 14:18-20. É um trecho importantíssimo que deve ser estudado com atenção, pois servirá de base para nossas conclusões sobre o assunto. Este trecho descreve Abrão dando o dízimo a Melquisedeque. A Bíblia não traz muitas informações sobre Melquisedeque, mas a pequena quantidade de informação sobre ele é a chave para compreendermos o assunto do dízimo em conexão com o ministério sacerdotal de Cristo.

As primeiras informações que temos sobre Melquisedeque referem-se às suas funções. O verso 18 diz que ele era rei de Salém[4] e sacerdote do Deus Altíssimo. Note que Melquisedeque acumula duas funções que posteriormente seriam delegadas a duas tribos distintas do povo de Israel: Judá ficaria com o trono e Levi com o sacerdócio.

A Bíblia apresenta dois modelos sacerdotais. Estes modelos ou tipos de ministérios sacerdotais são também denominados de "ordens sacerdotais". A "ordem Araônica" é modelo sacerdotal levítico que vigorou desde Arão até a morte de Cristo. A "ordem de Melquisedeque", ao contrário da “ordem araônica”, pressupõe o acúmulo das funções reais e sacerdotais na mesma pessoa. Melquisedeque é um tipo (símbolo) de Cristo, ou seja, prefigura Cristo em seu ministério de Rei e Sacerdote. Assim como Melquisedeque foi rei e sacerdote ao mesmo tempo, Cristo também é rei e sacerdote. Por esta razão Cristo é considerado sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque[5], ou seja, nos moldes de Melquisedeque, rei e sacerdote ao mesmo tempo.

O que tudo isto tem a ver com o assunto do dízimo? A relação destes fatos com o dízimo ficará clara posteriormente quando estudarmos o dízimo sob a luz do Novo Testamento, em especial sob a luz da epístola aos Hebreus.

Por enquanto continuamos nossa viagem pelo Velho Testamento buscando referências sobre o dízimo, sua aplicação e sua relação com o sacerdócio. Note que, antes de dizimar, Abrão recebeu benefícios de Melquisedeque: pão, vinho e uma bênção.

 

O Voto de Jacó (Gên. 28)

A próxima menção do dízimo no Velho Testamento encontra-se em Gênesis 28:18-22. Jacó faz um pacto com Deus e promete, a partir deste momento, dar o dízimo de tudo quanto Deus lhe desse. Se considerarmos a história de Jacó antes deste voto e depois do voto, vamos concluir que após o voto ele foi abençoado abundantemente.

Note que Abrão deu o dízimo a Melquisedeque e recebeu dele benefícios tangíveis e intangíveis. Melquisedeque além de trazer pão e vinho a Abrão (benefícios materiais tangíveis) proferiu sobre ele uma bênção (benefício espiritual intangível). No caso de Jacó, seu voto consistia da devolução dos dízimos caso Deus lhe concedesse benefícios tangíveis e intangíveis. Se Deus lhe desse pão para comer e roupa para vestir (benefícios materiais tangíveis) e fosse com ele lhe dando paz (benefícios espirituais intangíveis), Jacó se comprometeria em lhe dar o dízimo. Tanto no caso de Abrão quanto no de Jacó a relação de reciprocidade é clara. O princípio da reciprocidade é uma lição importante que pudemos tirar destes dois episódios. O dizimista recebe benefícios ao dizimar. Note que nesta época os serviços relacionados com o santuário ainda não tinham sido estabelecidos por Deus. Veremos que o princípio da reciprocidade se mantém no período em que Israel peregrinou no deserto.

 

O Dízimo no Deserto (Lev. 27)

Êxodo é o único livro do Pentateuco que não menciona o dízimo. O próximo trecho que menciona o dízimo está em Levítico 27:30-34. Este trecho afirma que todos os dízimos pertencem ao Senhor, mas não dá detalhes a respeito de como deveriam ser utilizados ou para quem deveriam ser entregues. Os trechos que serão analisados posteriormente citarão detalhes a respeito da aplicação e destino dos dízimos. O versículo 34 é particularmente interessante, pois faz menção dos "mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés no Sinai". O livro Levítico traz uma série de leis e termina com este verso. Certamente não estamos falando da lei moral, mas das leis cerimoniais, leis relacionadas com a saúde, leis relacionadas com os crimes e outras leis diversas. Temos uma questão pendente em paralelo: Dízimo é lei cerimonial? Foi abolido? Por quê? Esta questão será esclarecida posteriormente através do estudo das referências ao dízimo no Novo Testamento. Por enquanto vale a pena lembrar que o fato de uma determinada lei não constar no decálogo, não significa necessariamente que esta lei foi abolida. Exemplo: Lei que especifica animais imundos e impróprios para a alimentação.

 

Dízimo Pelo Serviço (Núm. 18)

O próximo trecho sobre o dízimo é maior e mais detalhado que os anteriores: Números 18:21-32. Novamente o dízimo é apresentado como sendo oferecido em troca de algo (o princípio da reciprocidade).

Desta vez o dízimo não era oferecido em troca de pão, vinho ou roupas, mas em troca de serviço. O verso 21 diz: "Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação". O verso 31 repete esta idéia do dízimo como recompensa pelo serviço para que não restem dúvidas. Os filhos de Levi deveriam trabalhar na tenda da congregação e por este serviço receberiam os dízimos de Israel. Os versos 22 e 23 declaram que os filhos de Israel que não pertencessem à tribo de Levi nunca mais deveriam chegar à tenda da congregação, mas apenas os levitas deveriam fazer o serviço da tenda da congregação: "E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação,... mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação".

A tenda da congregação era o tabernáculo, a tenda móvel do deserto. Lembre-se que estas ordens foram dadas por Deus a Moisés enquanto o povo vagueava pelo deserto rumo à Canaã prometida. Eles ainda não estavam estabelecidos em Canaã, não tinham um templo fixo, mas uma tenda móvel e os levitas eram os responsáveis por mantê-la e transportá-la. Os israelitas que pertenciam a outras tribos não deveriam fazer o trabalho da tenda da congregação. Ninguém deveria sequer tocar nos objetos sagrados.

Veremos posteriormente o que mudou nesta lei. Hoje há muitas pessoas que, ao comentar sobre o dízimo, gostam de fazer um paralelo entre o sistema levítico e a organização adventista. Tal comparação não é apropriada, pois o sistema levítico caducou. O modelo atual é o de Melquisedeque, no qual o dízimo vigora. Se adotássemos o modelo levítico hoje, de acordo com Números 18, poderíamos concluir que apenas o pastor deveria trabalhar na igreja e que apenas ele poderia se beneficiar do dízimo. Veremos adiante que o modelo atual é um pouco diferente e que o dízimo hoje deve ser usado para a pregação do evangelho e manutenção de obreiros evangélicos no campo. Isto ficará bem claro nos próximos capítulos quando estudarmos sobre o dízimo à luz do Espírito de Profecia.

 

O Dízimo em Canaã (Deut. 12)

O livro de Deuteronômio menciona o dízimo nos capítulos 12, 14 e 26. Leia com muita atenção Deuteronômio 12:1-14.

O período de peregrinação no deserto estava chegando ao fim. Novas leis seriam dadas por Deus ao Seu povo para serem observadas na nova terra que estavam para possuir. O verso 1 diz: "São estes os estatutos e os juízos que cuidareis de cumprir na terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais, para a possuirdes todos os dias que viverdes sobre a terra". Perceba que o verbo está no futuro: “cuidareis”.

Os novos estatutos que seriam válidos na nova terra já haviam sido apresentados em Deuteronômio 6:1: "Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor teu Deus se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para possuir”. Está claro que estamos falando de novas regras que passariam a vigorar a partir do momento em que o povo conquistasse Canaã. As regras com relação à aplicação do dízimo fazem parte deste conjunto novo de "estatutos e juízos" que foram alterados ou adicionados por Deus. Eles não mais deveriam proceder como no deserto. "Não procedereis em nada segundo estamos fazendo aqui" (verso 8).

Deus não muda, os seus princípios também não. Mas as pessoas mudam, a forma como as pessoas se organizam e se relacionam muda. Não há como negar que houve mudanças significativas na estrutura social do povo de Israel quando eles herdaram a nova terra. Por esta razão Deus adicionou e substituiu algumas leis. Agora adorariam a Deus em um local fixo que o Senhor escolheria para por o Seu nome e para lá deveriam ser trazidos os dízimos - esta foi uma das mudanças. Como estes dízimos deveriam ser aplicados a partir de então? Leia os versos 6 e 7. Os dízimos deveriam ser comidos pelo doador, pela sua família, pelos seus servos e pelos levitas, ou seja, com relação à aplicação do dízimo as regras seriam alteradas a partir do momento em que entrassem em Canaã.

Quando o povo estava no deserto, em nenhum momento a Bíblia diz que o doador deveria comer o dízimo junto com a sua família.

 

O Segundo Dízimo (Deut. 14)

O próximo texto bíblico sobre o dízimo está em Deuteronômio 14:22-29. Este texto é semelhante no seu conteúdo ao anterior, mencionado em Deuteronômio 12. Confirma o fato de que o dízimo deveria ser entregue “no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome” - verso 23. Repete a ordem através da qual o doador deveria comer com alegria os seus dízimos.

Apesar de ser bem semelhante ao trecho anterior, Deuteronômio 14 acrescenta um fato importante que deve ser destacado aqui: A cada três anos o adorador não deveria levar o dízimo para o templo, também não deveria comê-lo, mas deveria servir o dízimo “dentro das suas portas” como refeição para os peregrinos, órfãos e viúvas. Logicamente o povo é advertido a não se esquecer dos levitas, pois estes não tinham herança (terras cultiváveis), e não poderiam ficar abandonados a cada três anos sem alimento. Deus enfatiza repetidas vezes que os levitas não deveriam ser abandonados nesta nova forma de se distribuir o dízimo.

Alguns teólogos e comentaristas interpretam os textos de Deuteronômio 12 e 14 como sendo uma mudança de finalidade para o dízimo. Outros se baseiam na tradição rabínica e em algumas fontes históricas para interpretá-los como um segundo dízimo. Há até quem denomine o dízimo do terceiro ano de "terceiro dízimo". A Enciclopédia Adventista, referindo-se ao dízimo diz que os Israelitas davam muito mais do que um décimo de suas rendas para a obra de Deus, "mas alguns detalhes são obscuros"[6]. Estes "detalhes obscuros" provavelmente se referem à questão: O dízimo que era comido pelo doador substituía ou complementava o dízimo “oficial”? Não podemos desmerecer a tradição rabínica, devemos aceitá-la juntamente com outras fontes históricas como subsídios relevantes, mas não podemos colocar esta tradição como doutrina para os cristãos modernos. Se Deus tivesse a intenção que devolvêssemos dois dízimos, cuidaria em mencionar na Bíblia a necessidade de devolução do segundo dízimo.

Não dependemos da tradição rabínica para estabelecermos crenças fundamentais. Note que não estamos falando em ofertas voluntárias. A Bíblia não apresenta o dízimo de Deuteronômio 12 e 14 como sendo opcional, voluntário ou de menor importância que um provável “primeiro dízimo”. O dízimo de Deuteronômio 12 e 14 é lei. Os que defendem que Deuteronômio 12 e 14 se referem ao “segundo dízimo” e, ainda vigente, defendem equivocadamente que o “segundo dízimo” é opcional ou voluntário, mas a Bíblia não diz isso.

Nos versos bíblicos mencionados acima, a palavra “dízimo” foi traduzida do original hebraico “ma`aser”, que significa a décima parte, dez por cento. Esta palavra não tem o significado de uma oferta com percentual variável ou voluntário. Dízimo é dízimo, oferta voluntária é oferta voluntária; são duas coisas bem diferentes. Dízimo é um décimo, não pode ser confundido com oferta voluntária. Os trechos que estamos estudando referem-se ao dízimo; não estamos falando sobre ofertas voluntárias.

A Verdade não é influenciada pela tradição rabínica, pelos ensinos do pastor, do ancião, da Associação ou pelas análises complicadas dos teólogos renomados e dos PhDs em teologia. A Verdade é uma só e ela está na Bíblia à disposição do mais simples pesquisador. Mas convém lembrar que a verdade nem sempre atende aos interesses financeiros de certos grupos. Alguns grupos, por motivos óbvios, prefeririam que certos versos fossem arrancados da Bíblia.

Convém repetir: Os que insistem que Deuteronômio 12 e 14 se referem ao "segundo dízimo" tem o dever de devolver 20% de suas rendas como dízimo e segundo dízimo e mais um valor qualquer como oferta voluntária. Isso porque em nenhum momento a Bíblia diz que os dízimos de Deuteronômio 12 e 14 têm caráter opcional.

"O grande erro da Igreja Católica reside no fato de que a Bíblia é interpretada à luz das opiniões dos “pais”. Suas opiniões são consideradas infalíveis, e os dignitários da Igreja supõem ser sua prerrogativa obrigar os outros a crer como eles e usar a força para compelir a consciência. Os que não concordam com eles são considerados heréticos... A vontade e a voz de homens finitos não devem ser interpretadas como sendo a voz de Deus." - Ellen G. White - Fundamentos da Educação Cristã, pág. 308.

Outro trecho sobre o dízimo está em Deuteronômio 26:12-15. Após a leitura você concluirá que é um resumo do que lemos no capítulo 14. Nada de diferente com relação à aplicação: Estrangeiros, órfãos e viúvas eram beneficiados com o dízimo do terceiro ano. Os levitas que serviam no santuário também eram beneficiados.

Outras Citações no Velho Testamento

O serviço do santuário ficou suspenso enquanto o povo de Israel permaneceu no exílio em Babilônia. Mas quando o povo voltou para Jerusalém, os estatutos e leis que haviam sido transmitidos a Moisés foram colocados novamente em prática.

O livro de Neemias traz informações sobre como a prática de dizimar foi restabelecida no período que sucedeu o exílio Babilônico (Ver Neemias 10:37-39). Havia salas especiais onde as ofertas e os dízimos eram armazenados. Estas salas ou depósitos eram denominados “Câmaras do Tesouro” (Ver Neemias 10:38; 12:44).

Nesta mesma época, houve um episódio que indignou Neemias. O sacerdote Eliasibe, que era responsável pela administração das Câmaras do Tesouro, fez uma câmara grande para Tobias, com quem havia se aparentado. Nesta época Neemias estava fora de Jerusalém, mas quando voltou tomou providências e expulsou Tobias da Câmara do Senhor retirando seus móveis da câmara e instituiu outros administradores para os depósitos sagrados. Perceba que a corrupção e o favorecimento de parentes não é algo novo. O capítulo 13, que narra este episódio, também diz que os levitas não estavam sendo devidamente pagos com os dízimos de forma que se retiraram do ofício sagrado e fugiram para o campo.[7] Neemias restaurou o serviço espiritual através de uma correta aplicação dos dízimos.

A penúltima menção do dízimo no Velho Testamento está em Amós 4:4. Apesar de estarem praticando a idolatria, os israelitas continuavam na prática dos rituais levíticos. Amós ironiza o zelo de alguns israelitas com relação a práticas cerimoniais, enquanto desprezavam princípios elementares da lei de Deus. Algo semelhante aconteceu na época de Jesus (veja Mateus 23:23) e algo muito semelhante acontece hoje. Valoriza-se a questão do dízimo enquanto a misericórdia, a justiça e o amor são esquecidos.

O último trecho do Velho Testamento encontra-se em Malaquias 3:7-11. Vamos comentá-lo posteriormente na seção “Onde Fica a Casa do Tesouro?”.

 

O Dízimo no Novo Testamento

O Novo Testamento não fala muito sobre o dízimo, mas menciona o suficiente para compreendermos o propósito de Deus para com os cristãos. Veremos que, apesar de estar incluída na lei de Moisés, os princípios da lei do dízimo vigoram até hoje.

 

Jesus e o Dízimo

Jesus mencionou o dízimo e aprovou a sua devolução em S. Mateus 23:23. Embora acreditamos que o sistema de dízimo aplica-se perfeitamente hoje, não lançamos mão deste trecho para defender a tese. Já foi dito que Cristo viveu sob a lei cerimonial, foi circuncidado, curou leprosos e pediu que se apresentassem ao sacerdote como requeria a lei mosaica. Portanto não podemos argumentar que, se Jesus apoiou uma lei cerimonial antes de sua morte, então ela vale para nossos dias. Na época de Cristo estava em vigor a ordem sacerdotal levítica ou araônica.

 

O Novo Sacerdócio (Hebreus 7)

O texto mais completo do Novo Testamento sobre a lei do dízimo está em Hebreus, capítulo 7. Paulo compara as duas ordens sacerdotais: A ordem Araônica e a ordem de Melquisedeque - esta última representada agora por Cristo, nosso sumo sacerdote. Paulo exalta a ordem de Melquisedeque em detrimento da ordem Araônica.

“E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos” Hebreus 7:5.

Neste versículo, Paulo cita a lei do dízimo aplicada ao sacerdócio levítico, mas o apóstolo diz que algo mudou com relação a esta lei:

“Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. - Hebreus 7:12.

Que lei está sendo mudada? Seria, porventura, a lei moral, ou seja, os dez mandamentos? Seria a lei de saúde e higiene? A lei em questão é a lei do dízimo. É importante repetir que o dízimo sempre esteve relacionado ao sacerdócio (tanto na ordem de Melquisedeque quanto na ordem Araônica). Portanto, com a mudança de ordem sacerdotal, houve também mudança na lei do dízimo. Não mais vivemos sob a ordem Araônica. O modelo Levítico caducou. Agora vivemos sob a ordem de Melquisedeque. Será que Paulo está dizendo que, com a mudança da ordem sacerdotal, não é mais necessário dizimar? Logicamente não! Perceba que a Bíblia não está afirmando que a lei do dízimo foi abolida; afirma-se que a lei está sendo apenas mudada. O dízimo é um elemento vinculado ao sacerdócio e, em particular, à ordem sacerdotal de Melquisedeque. Lembre-se que Abrão deu o dízimo para Melquisedeque. Isto significa que o dízimo é um componente do sacerdócio de Melquisedeque.

Portanto o sistema de dízimos deve ser mantido hoje, mas para sustentar um outro tipo de sacerdócio, bem diferente do sacerdócio levítico onde apenas um pequeno grupo era beneficiado. Qualquer comparação do sistema de dízimo atual com o sistema Araônico é inconcebível e gerará uma distorção no modelo.

O que muda neste novo sacerdócio mencionado por Paulo? No regime araônico o dízimo era utilizado para a manutenção de pessoas que se dedicavam exclusivamente para o serviço especificado por Deus. Apenas uma dentre as doze tribos recebeu a incumbência deste sacerdócio e, junto com as responsabilidades exclusivas de manutenção do templo, esta tribo recebeu também o direito exclusivo de propriedade sobre os dízimos.

Jesus especificou um novo modelo de sacerdócio, um novo ministério para os seus discípulos: A pregação do Evangelho do Reino. O modelo sacerdotal mudou, da mesma forma a lei do dízimo mudou em sua aplicação. Hoje o dízimo deve ser usado para sustentar o sacerdócio de Melquisedeque, ou seja, o ministério iniciado por Cristo, Sumo-Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Este ministério iniciado por Cristo é o ministério da pregação do evangelho eterno.

Mas quem são os sacerdotes desta nova ordem sacerdotal? Quem é que participa deste ministério evangelístico? Quem faz a pregação do evangelho hoje? São apenas os pastores? Apenas os anciãos? A Associação? A Corporação? Hoje quem prega o evangelho é a Igreja - e a igreja são os membros. Jesus não escolheu apenas um discípulo dentre os doze para pregar o evangelho e receber o dízimo. O sacerdócio, na ordem de Melquisedeque, não é uma responsabilidade só do pastor ou só do ancião, é uma responsabilidade de todos os crentes, de toda Igreja.

Isto significa que a Igreja deveria receber os dízimos? Sim. A Igreja deve receber os dízimos para financiar suas atividades sacerdotais ou missionárias. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa". A casa do tesouro é a Igreja. Ela é a legítima proprietária dos dízimos. Deus lhe deu este direito. Mas sempre devemos lembrar que os direitos estão intimamente relacionados com os deveres. Há uma responsabilidade por trás do direito da Igreja sobre o dízimo. Este direito e este dever estão sobre os membros e não sobre a Corporação.

“A mensagem tem que ser apresentada pelos que amam e temem a Deus. Não transfirais vossa responsabilidade para nenhuma Associação. Ide e, como evangelistas, com humildade apresentai um 'assim dizem as Escrituras' ” - Ellen G. White - Carta 43 - 1905

Cultiva-se a idéia equivocada de que o direito sobre os dízimos é da Associação / Missão, mas o dever da pregação recai sobre a Igreja. Direitos e deveres sempre andam juntos. Os direitos sobre os dízimos e o dever da pregação do evangelho estão sobre os sacerdotes representantes de Cristo. Quem são os sacerdotes hoje?

“Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo… Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” I Pedro 2:5 e 9.

Observe a comprovação de que todos nós somos sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque: "Sacerdócio real", diz Pedro. Isto significa que nós cristãos também exercemos funções reais e sacerdotais, característica típica de Melquisedeque, rei e sacerdote ao mesmo tempo.

A Bíblia não diz que para ser um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque é necessário ter um curso de teologia, um mestrado ou um PhD. A Bíblia não diz que para ser um verdadeiro sacerdote de Cristo você precisa ser remunerado ou ter vínculo empregatício com uma Corporação. Todos os crentes são chamados para compor o sacerdócio de Melquisedeque.

A Bíblia promete que aqueles que participarem da primeira ressurreição poderão cooperar com Cristo em seu ministério sacerdotal segundo a ordem de Melquisedeque, acumulando as duas funções típicas de Melquisedeque - sacerdotes e reis: "Serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele os mil anos". Apocalipse 20:6.

O livro de Apocalipse afirma que Cristo é “aquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai” - Apoc. 1:5. Note as palavras “reino” e “sacerdotes” - são típicas do ministério sacerdotal de Melquisedeque. E quem está incluído neste texto? Todos os crentes.

 

Onde Fica a Casa do Tesouro?

Os textos bíblicos que estudamos neste capítulo (O Dízimo no Velho e Novo Testamento) raramente são estudados em nossa Igreja. Você já deve imaginar o porquê. Nos sermões sobre dízimo, nas semanas de oração sobre mordomia, sem dúvida nenhuma o texto mais utilizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia para estimular a devolução dos dízimos é Malaquias 3:10:

"Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa".

Há muita discussão sobre onde fica a "Casa do Tesouro". Muitos afirmam que a "Casa do Tesouro" é a Casa de Deus, o Templo onde Deus habita. A Divisão Sul Americana dos Adventistas do Sétimo Dia, através do seu livro de Regulamentos Eclesiástico-Administrativos (mais conhecido como livro de Praxes) afirma que a Casa do Tesouro é a tesouraria da Associação/Missão:

"A casa do tesouro. O dízimo é do Senhor, e deve ser devolvido à casa do tesouro, à tesouraria da associação/missão." - Regulamentos Eclesiástico-Administrativos da DSA 1998 - ítem  V 12 05 4.

Cuidado! O texto que acabamos de citar não está na Bíblia, nem foi escrito por Ellen White. É um texto do livro de regulamentos administrativos da Divisão Sul Americana dos Adventistas do Sétimo Dia. No capítulo III discutiremos um pouco mais sobre estes regulamentos administrativos da IASD. Agora o nosso objetivo é descobrir onde fica a verdadeira Casa do Tesouro hoje. Para tanto, devemos compreender o que era a Casa do Tesouro nos tempos bíblicos.

Vamos voltar à época de Abraão. Onde ficava a "Casa do Tesouro" na ocasião em que Abraão deu o dízimo a Melquisedeque? Havia um templo naquela época? Um espaço físico para armazenar o dízimo e as ofertas?

A grande falha na compreensão do assunto do dízimo é imaginar que o dízimo sempre esteve relacionado a um espaço físico, à “Casa do Tesouro”. Esta falha de compreensão é decorrente do estudo sistemático e repetitivo do assunto "dízimo" baseado em apenas no texto bíblico de Malaquias. Após ouvirmos vários sermões sobre o dízimo e várias semanas de oração sobre mordomia onde apenas o texto de Malaquias é citado, acabamos sendo condicionados a associar a palavra "dízimo" sempre à Casa do Tesouro, mas nem sempre foi assim.

A Casa do Tesouro era um conjunto de câmaras ou depósito de mantimentos que foram construídas no templo de Zorobabel, após o exílio babilônico. Neemias também chamou a “Casa do Tesouro” de “Câmaras do Tesouro” (Nee 12:44) e a associou com a casa de Deus: "Os levitas devem trazer o dízimo dos dízimos à casa do nosso Deus, para as câmaras" (Neemias 10:38).

De acordo com o livro das Crônicas, tais câmaras ou depósitos do tesouro de Deus já haviam sido construídos por Salomão, de acordo com o modelo que ele recebeu de seu pai Davi: "Então Davi deu a Salomão, seu filho, o modelo do alpendre com as suas casas, as suas tesourarias, os seus cenáculos e as suas recâmaras interiores, como também da casa do propiciatório; e também o modelo de tudo o que tinha em mente para os átrios da casa do Senhor, para todas as câmaras em redor, para os tesouros da casa de Deus e para os tesouros das coisas sagradas". (I Crônicas 28:11 e 12).

No tabernáculo do deserto não havia tal depósito chamado “Casa do Tesouro”. Como vimos no capítulo anterior, antes do cativeiro babilônico não havia o conceito de armazenar dízimos em depósitos ou câmaras especiais. Muitas vezes os dízimos eram comidos pelos doadores no templo ou em sua cidade a cada três anos.

Malaquias viveu após o retorno do exílio babilônico e quando se referiu à “Casa do Tesouro” estava falando sobre estas “Câmaras do Tesouro” que não existiam na época de Abraão e Melquisedeque. O conceito físico de "Câmaras do Tesouro" está presente apenas em um período da história do povo de Israel quando as instalações físicas do Templo constituíam o centro da prática religiosa e cerimonial judaica.

Apesar de sabermos que a ordem sacerdotal em vigor é a de Melquisedeque, temos muita dificuldade para abandonar nossa "forma levítica" de pensar. Na prática, muitos adventista pensam e agem dentro de um modelo levítico. Comparam os pastores com os levitas e nossa igreja com o santuário. Pensar de forma "levítica" é muito perigoso e pode nos levar a problemas sérios. Não é difícil para uma pessoa que raciocina de forma "levítica" associar a figura do sumo-sacerdote ao presidente da Associação/Missão. Afinal de contas se o pastor distrital é o sacerdote ou levita, o sumo-sacerdote é o presidente da Associação/Missão ou o presidente da Associação Geral.

O sacerdócio levítico é inferior e ultrapassado. Temos que olhar para o povo de Deus através do modelo sacerdotal de Melquisedeque. Desta forma associaremos o templo ao nosso próprio corpo - um lugar santo, habitação do Espírito Santo. No modelo de Melquisedeque os sacerdotes são todos os crentes e não apenas os pastores e o sumo sacerdote é Jesus Cristo, não o presidente da Associação/Missão.

No modelo sacerdotal de Melquisedeque o espaço físico torna-se irrelevante quando comparado com a grandeza da obra confiada ao sacerdócio real: "anunciar as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” - I Pedro 2: 9. Lembre-se sempre de que no modelo sacerdotal de Melquisedeque a missão e obra confiada aos sacerdotes supera em importância qualquer instituição ou estabelecimento físico. Não podemos menosprezar as instalações físicas onde nos reunimos para cultuar a Deus, mas a importância da obra em favor das pessoas carentes do evangelho é maior do que a de um espaço físico ou instituição organizacional.

No modelo de Melquisedeque, com o que poderíamos associar a "Casa do Tesouro" da época de Neemias? De acordo com Ellen White, a Casa do Tesouro hoje não é um local físico, uma câmara, um depósito ou uma conta corrente de Associação/Missão. Segundo ela, a Casa do Tesouro de Deus é o “serviço de Cristo”, é a obra de pregação do evangelho:

“Há apenas dois lugares no mundo onde podemos depositar nossos tesouros: na Casa do Tesouro de Deus ou na de Satanás. E tudo que não é dedicado ao serviço de Cristo é contado do lado de Satanás e vai para fortalecer a causa dele.” - Ellen G. White - Testemunhos, vol. 6, pág. 174 - Grifo Acrescido.

Se o dízimo que você deposita na salva de sua igreja não for para o “serviço de Cristo”, ou seja, evangelização e salvação de almas, infelizmente você não o depositou na Casa do Tesouro de Deus, mas sim na Casa do Tesouro de Satanás. Mesmo depositando o dinheiro na igreja verdadeira, se este dinheiro não for destinado para a pregação do evangelho e salvação de almas, este dinheiro foi contado do lado de Satanás, foi para a Casa do Tesouro do Inimigo.

É lamentável que muitos dos nossos queridos irmãos imaginam que simplesmente depositando os dízimos na igreja já estão, através desta doação, trazendo os dízimos à Casa do Tesouro. Graças ao dom profético dado por Deus à Sua mensageira, nós podemos chegar à seguinte conclusão: Só depositamos o dízimo na Casa do Tesouro do Senhor quando este for bem empregado no serviço de Cristo. Quando o destino do dízimo não for o adequado, podemos considerar que ele foi “contado do lado de Satanás e foi para fortalecer a causa dele”.

Nos capítulos seguintes veremos como são empregados os dízimos que são remetidos às Associações e Missões.


[1] S. Mateus 23:23

[2] S. Lucas 2:21 e 22

[3] S. Mateus 8:4

[4] Salém significa paz. Provavelmente uma referência poética a Jerusalém. Veja Salmo 76:2

[5] Salmo 110:4

[6] Enciclopédia Adventista em Inglês, comentando sobre o dízimo ("Tithe"), segundo parágrafo.

[7] Neemias 13:10

 

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