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O Dízimo e o Seu Uso na Corporação Adventista

Capítulo II - O Dízimo e os Pioneiros da IASD

 

Este capítulo mostra como o ministério evangélico foi financiado nos primórdios da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Infelizmente são poucos os adventistas do sétimo dia que conhecem a história de sua igreja. A história da manutenção do ministério evangélico no movimento adventista passou por três fases distintas e vamos analisar cada uma delas:

1.       Manutenção Própria (1844 - 1859)

2.       Beneficência Sistemática (1859 - 1878)

3.       Sistema do Dízimo (1878 - hoje)

Fase 1 - Manutenção Própria

Na primeira fase, os pioneiros, a exemplo de Paulo, trabalhavam para se sustentar e financiar a obra evangelística que era realizada por eles mesmos. Assim como Paulo construiu tendas, Tiago White cortou lenha, trabalhou na estrada de ferro e ceifou feno para financiar o trabalho missionário. Outros pioneiros exerciam suas atividades seculares para sustentar a pregação do evangelho. O sistema de dízimo ainda não havia sido adotado. Apesar de estarem divididos entre o trabalho secular e o ministério evangélico, foi nesta fase que a Verdade Presente foi compreendida e os pontos fundamentais de doutrina ficaram bem estabelecidos.

"Mediante cuidado e labor incessantes e esmagadora ansiedade, tem a obra ido avante, até que agora a verdade presente está clara, sua evidência não é posta em dúvida pelos sinceros... A verdade agora é tornada tão clara que todas a podem ver, e abraçar, se quiserem; mas foi necessário muito trabalho para trazê-la à luz como está, e tão árduo labor jamais terá de ser realizado outra vez para tornar a verdade clara" - E. G. White MS 2, 1855 (26 de agosto de 1855)[1]

"Nossa posição parece muito clara; sabemos que possuímos a verdade" Ellen G. White, Carta de março de 1849. Record Book I, pág. 72.[2]

Embora as verdades fundamentais estivessem bem estabelecidas já em 1849, o plano do dízimo ainda não tinha sido adotado pelos adventistas. Este plano seria adotado aproximadamente trinta anos depois.

Fase 2 - Beneficência Sistemática

Em 1859 foi adotado o plano de "Beneficência Sistemática". Através deste plano cada membro que recebesse ordenado daria uma soma determinada semanalmente. Os irmãos de dezoito a sessenta anos de idade deveriam doar semanalmente de 5 a 25 centavos de dólar. As irmãs de dezoito a sessenta anos de idade deveriam doar semanalmente de 2 a 10 centavos de dólar. Cada irmão ou irmã deveria doar 5 centavos para cada 100 dólares de propriedade que possuíssem.[3] Este sistema foi sancionado pela irmã White como sendo "agradável a Deus", o Qual, declarava ela, "estabelecera o plano pela descida de Seu Santo Espírito". E acrescentou: "Este é um dos pontos mesmos pelos quais Deus pede contas a Seu povo"[4]. Oito anos mais tarde, ela assegurava que este plano tinha-se "originado com Deus, cuja sabedoria é infalível"[5]

Fase 3 - Sistema do Dízimo

Na assembléia geral de 1878 uma comissão foi nomeada para estudar o plano da "Beneficência Sistemática". Este plano foi abandonado e a comissão adotou o plano do dízimo que permanece até hoje.[6] Mas o sistema de Beneficência Sistemática não havia sido estabelecido por Deus? Não havia sido este sistema sancionado por Ellen White como sendo "agradável a Deus"? Deus não havia estabelecido o plano da Beneficência Sistemática "pela descida de Seu Santo Espírito"? Este plano não tinha se "originado com Deus, cuja sabedoria é infalível"? A resposta para todas estas perguntas é sim. Mas, então, por que mudar o plano? Deus decidiu mais uma vez mudar o plano para poder atender às necessidades da Igreja que não mais estavam sendo atendidas com o sistema anterior. As necessidades mudam, a sociedade muda, a estrutura da igreja muda, os sistemas mudam, mas os princípios permanecem os mesmos.

Embora o plano do dízimo, estabelecido na IASD em 1878, seja de origem divina, a primeira fase da história de nossa igreja deve nos inspirar a trabalhar com o mesmo fervor dos pioneiros. A economia e abnegação dos pioneiros durante a primeira fase ("Manutenção Própria") servem de exemplo para os obreiros modernos. Que grande diferença podemos observar entre os pioneiros e vários líderes religiosos hoje! Que abnegação! Que sacrifício! Que humildade! Estas características deverão ser recuperadas pelos verdadeiros obreiros se desejarem contemplar a volta de Cristo em nossos dias. Eles não davam 10%, mas sim 100%! Entregavam-se totalmente à obra.

"Requer-se agora tanta abnegação como quando iniciamos a obra, quando éramos apenas um punhadinho de gente, quando sabíamos o que significava abnegação, o que queria dizer sacrifício... Alegrávamo-nos de usar roupas em segunda mão, e por vezes quase não tínhamos comida suficiente para nos sustentar as forças. Tudo o mais era posto na obra... Deus intenta que as instituições aqui sejam levadas avante por meio de sacrifício, da mesma maneira por que foram postos os fundamentos" - Ellen G. White - General Conference Bulletin, 20 de março de 1891, pág. 184 - Citado em Mensagens Escolhidas. Vol. II, pág. 189.

O Espírito de Profecia e a Aplicação dos Dízimos

Ellen G. White escreveu muitas páginas a respeito do dízimo e de sua correta aplicação. O livro “Chuva de Bênçãos”, publicado pela Divisão Sul Americana, é uma compilação dos escritos da irmã White sobre este assunto.

Infelizmente parece que o objetivo desta compilação foi apenas convencer a igreja do seu dever em devolver o dízimo. Ele não teve a intenção de apresentar um estudo completo como fizemos aqui ou apresentar o dever da Corporação em aplicar corretamente os dízimos. Isto é facilmente percebido através de sua leitura e comprovado através de uma omissão no seguinte trecho de Ellen White, transcrito de forma incompleta em "Chuva de Bênçãos":

"Um raciocina que o dízimo pode ser aplicado para fins escolares. Outros argumentam ainda que os colportores devem ser sustentados com o dízimo. Comete-se grande erro quando se retira o dízimo do fim em que deve ser empregado - o sustento dos ministros..." Chuva de Bênçãos, pág. 44.

Foi omitida a última parte que evidenciaria de forma clara o não cumprimento desta recomendação pela liderança da IASD na aplicação dos dízimos. O trecho na íntegra pode ser encontrado na página 226 do livro “Obreiros Evangélicos”. Transcrevo a seguir, o trecho completo com a parte omitida em "Chuva de Bênçãos":

"Um raciocina que o dízimo pode ser aplicado para fins escolares. Outros argumentam ainda que os colportores devem ser sustentados com o dízimo. Comete-se grande erro quando se retira o dízimo do fim em que deve ser empregado - o sustento dos ministros. Deveria haver hoje no campo uma centena de obreiros bem habilitados, onde existe unicamente um". - Ellen G. White - Obreiros Evangélicos, pág. 226.

A última frase desta citação foi omitida do livro Chuva de Bênçãos por uma razão muito simples: A Corporação da Igreja Adventista do Sétimo Dia infelizmente não está cumprindo esta recomendação do Espírito de Profecia: Utilizar os dízimos para colocar mais obreiros no campo.

Como você poderá perceber através das estatísticas que serão apresentadas no capítulo 4, a obra tem muitos obreiros, mas bem poucos estão no campo e os que trabalham no campo não conseguem dar a assistência devida às igrejas.

Note que o trecho se refere a "obreiros bem habilitados". Isto significa que o dízimo deve ser usado não apenas para o sustento dos obreiros, mas também em seu preparo e habilitação, ou seja, treinamento. Algumas igrejas têm contratado obreiros independentemente do auxílio da Associação pagam o salário destes homens e mulheres com doações e ofertas voluntárias. Mas isto não deveria ser assim. Colocar obreiros no campo é uma obrigação daqueles que recebem o dízimo.

“Deus não pode olhar para a presente condição com aprovação, mas com condenação. Seu tesouro está privado dos meios que deveriam ser usados para o apoio dos ministros do evangelho nos campos próximos e distantes”. - Ellen G. White - Manuscript Releases, Vol. 7, pág. 136, parágrafo 2.

“O dízimo deveria ir para aqueles que trabalham na palavra e na doutrina, sejam eles homens ou mulheres” Manuscrito 149 - 1899.

Ellen G. White é bem clara com relação à aplicação dos dízimos. O dízimo deve ser usado para os que trabalham na palavra e na doutrina. Ela não diz que o dízimo deve ser usado para pagar administradores de Associações, administradores de Casas Publicadoras, construção de prédios de Associação. Ela diz:

"Que a obra não continue mais a ser impedida porque o dízimo foi desviado para vários fins diversos daquele para que o Senhor disse que ele devia ir. Devem-se estabelecer provisões para esses outros ramos da obra. Eles devem ser mantidos, mas não do dízimo. Deus não mudou; o dízimo tem de ser ainda empregado para a manutenção do ministério. A abertura de novos campos requer mais eficiência ministerial do que possuímos agora, e é preciso haver meios no tesouro". - Ellen G. White - Obreiros Evangélicos, pág. 227.

Este trecho não deixa dúvida: O dízimo ainda hoje deve ser usado para a pregação do evangelho. Novos campos devem ser trabalhados e obreiros pagos com o dízimo devem ser comissionados para esta obra. Esta obra, na prática, é realizada hoje por voluntários não remunerados. Estes exercem suas atividades seculares, devolvem fielmente o dízimo para a Associação, trabalham voluntariamente na obra de Deus, são obrigados a comprar material evangelístico e ainda conseguem resultados positivos. Louvado seja Deus por este sucesso, mas há algo errado e evidente aos olhos da maioria dos adventistas que precisa ser corrigido.

Como Ellen G. White dizimava?

As distorções que temos observado na administração e emprego do dízimo hoje já eram comuns na época de Ellen White. Estes desvios geravam injustiças e descontentamento de muitos membros e por esta razão algumas pessoas deixaram de remeter os dízimos através das vias regulares (Associações) e passaram a entregá-los à irmã White para que ela empregasse o dinheiro da melhor forma.

Ellen White não apenas administrava o seu próprio dízimo como também aceitava administrar o dízimo de terceiros; pessoas que, já naquela época, não estavam satisfeitas com o destino que a administração da IASD dava para os dízimos. No entanto estas pessoas confiavam na mensageira do Senhor. Ellen White usava os seus dízimos para auxiliar “ministros brancos e de cor que eram negligenciados e não recebiam suficiente e corretamente para manter suas famílias”. (Carta Watson, 22/01/1905).

Ellen White preferia não dar publicidade a este fato, mas foi obrigada a se manifestar através de uma carta de admoestação ao pastor George F. Watson, presidente da Associação do Colorado, que era contra a atitude dela (Veja a íntegra da carta no Apêndice A). Abaixo estão transcritos alguns trechos desta carta que foi redigida por Ellen White em 1905:

Durante anos tem sido mostrado a mim que meu dízimo deveria ser remetido para ajudar os ministros brancos e negros que eram negligenciados e não recebiam o suficiente, necessário para sustentar a família...”.

Alguns alegam que Ellen White adotou este procedimento numa situação excepcional, durante um curto período e que esta não era sua prática rotineira. No entanto, sua carta deixa claro que “durante anos” ela deixou de remeter o dízimo para a Associação e decidiu envia-lo para os campos mais carentes. Na mesma carta, Ellen White repete três vezes a expressão “durante anos”, uma prova clara de que tal atitude era bem fundamentada e não uma atitude tomada sem reflexão.

Alguns ousam dizer que esta atitude da irmã White foi equivocada; dizem que ela errou e depois pediu perdão para a Associação. Dizem que ela era humana, sujeita a falhas e portanto errou ao não mais enviar o dízimo para a Associação. De fato, Ellen White era humana e, portanto, sujeita a erros, mas isto não significa que sua atitude foi errada. Como ela, sendo a profetiza de Deus, poderia errar por vários anos sem receber do Senhor uma repreensão direta? Ao contrário, ela mesma diz que lhe foi mostrado o que fazer com o seu dízimo. Sempre que Ellen White diz "Foi-me mostrado", quem mostrava a ela? Tudo que lhe era mostrado vinha do Senhor. Ela sabia que era mais importante evangelizar um campo carente do que cumprir um protocolo religioso entregando o dinheiro na mão dos administradores da corporação.

“Com respeito à obra com os negros no Sul, aquele Campo foi e ainda está sendo roubado dos meios que deveriam chegar até seus obreiros. Se têm existido casos nos quais nossas irmãs têm destinado seus dízimos para o sustento de ministros que trabalham por pessoas negras no Sul, conserve-se cada homem, se for sábio, calado.”.

Note aqui a utilização de uma palavra forte. Ellen White diz que os campos carentes estavam sendo roubados. Recursos financeiros que deveriam atingir locais mais necessitados por algum motivo não estavam bem administrados pela Associação. A Palavra do Senhor deixa claro que ao desviarmos o dízimo de seu objetivo original estamos roubando a Deus. E era exatamente isso que a irmã White quis dizer.

“Alguns casos têm sido mantidos diante de mim durante anos, e tenho suprido suas necessidades do dízimo, conforme Deus me instruiu a fazer. E se qualquer pessoa me disser: Irmã White, você poderá destinar o meu dízimo para onde você sabe que ele será mais necessário, eu direi: Sim, farei; e tenho agido assim...”.

“Envio-lhe essa explicação para que você não cometa um erro. As circunstâncias alteram os casos. Não aconselharia ninguém a realizar uma prática de arrecadação do dinheiro do dízimo. Mas durante anos e ainda hoje, há pessoas que perderam a confiança no método da aplicação do dízimo e têm colocado seu dízimo em minhas mãos, e dito que se não o pegasse, eles mesmos o encaminhariam para as famílias de ministros mais carentes que encontrassem. Tenho recebido o dinheiro, dado um recibo por ele, e dito a eles como foi aplicado”.

Duas coisas interessantes neste último parágrafo:

(1) Ela não aconselha que a administração do dízimo se torne um costume, mas isto acaba se tornando inevitável em alguns casos: No caso dela, por exemplo, quando percebeu que alguns campos “foram e ainda são roubados dos meios” e no caso das irmãs que “perderam a confiança no método da aplicação do dízimo”. Nestes casos não há outra alternativa, os dízimos acabaram sendo aplicados no ministério evangélico independentemente do "auxílio" dos intermediários da Associação. Mas aqueles que confiavam na administração da Associação e estavam satisfeitos com o serviço prestado por ela continuavam remetendo seus dízimos para aquele local.

(2) Outro detalhe interessante neste episódio é que Ellen White dizia às irmãs como havia utilizado o dízimo que lhe havia sido confiado, ou seja, a irmã White prestava contas, administrava o dízimo alheio com transparência. Infelizmente a transparência financeira não é o ponto forte da administração do dízimo. Você pode enviar seus dízimos mensalmente para a Associação, mas você não tem liberdade para saber onde ou como foi aplicado, de forma detalhada, o dinheiro. O máximo de informação é uma tabela de distribuição percentual (10% para a União, 9% para o IAJA, 1% para a Voz da Profecia, etc...), mas um relatório detalhado de entradas e saídas é algo realmente difícil de se conseguir.

Deus fala através das decisões das Associações/Missões e da Associação Geral? Em 1901 Ellen White declarou:

"Isso desses homens se encontrarem num lugar sagrado, para serem como a voz de Deus para o povo, conforme antes acreditávamos ser a Associação Geral - é algo que já passou" - General Conference Bulletin, 3 de abril de 1901, pág. 25.[7]

No século XIX, Ellen White acreditava que a voz de Deus se manifestava através das decisões da Conferência Geral. Ao longo de sua experiência na Austrália e após o retorno para os EUA, já no século XX (1901), ela foi obrigada a mudar de idéia. Em 1905, ela já não enviava mais o dízimo para a Associação. Mas vale ressaltar que esta foi uma decisão particular dela, pois ela respeitava as irmãs que compartilhavam de sua posição e respeitava também a opção daqueles que enviavam os dízimos para a Associação. Ela não desejava que isto se tornasse um ponto de conflito entre os irmãos, por isso exercia o livre arbítrio e defendia o direito dos outros agirem de acordo com a consciência deles. Em nenhum momento ela disse que não deveríamos devolver o dízimo para a Associação. Também nunca disse que os dízimos deveriam ser devolvidos obrigatoriamente através da Associação.

As Vias Regulares

A irmã White por diversas vezes se manifestou contra a centralização do poder decisório e financeiro nas mãos de poucos administradores. Todas as vezes que alguns homens da Associação Geral tentavam dominar a igreja, Ellen White os reprovava por tentarem controlar rigidamente vários aspectos da obra sem dar liberdade e independência para os membros. Em 28 de junho de 1901 Ellen G. White disse:

“Devem as "vias regulares" (no inglês, "regular lines"), que dizem que toda mente deve ser controlada por duas ou três mentes em Battle Creek, continuar dominando? O clamor da Macedônia vem de todas as partes. Devem os homens ir às "vias regulares" para ver se eles permitirão o trabalho, ou devem eles sair e trabalhar da melhor forma que puderem dependendo de suas próprias habilidades e do auxílio do Senhor, iniciando de forma humilde e criando um interesse pela verdade em lugares onde nada tem sido feito para dar a mensagem de advertência?” - Ellen G. White - Spaulding e Magan, pág. 176.

Toda vez que Ellen White menciona as vias regulares (no inglês, “regular lines”) ela está se referindo à administração das Associações. No texto acima, quando ela menciona as “vias regulares”, está se referindo à Associação Geral que ficava em Battle Creek. Lá em Battle Creek, poucos homens tentavam continuar dominando a igreja e Ellen White reprovou esta postura centralizadora.

Muitos membros, ao transferirem o dízimo para a Igreja através das vias regulares (Associação/Missão) imaginam que juntamente com o dinheiro estão também repassando sua responsabilidade de mordomo para os administradores da Corporação. De fato, cada um de nós tem o livre arbítrio para transferir o dinheiro para onde desejarmos, mas a responsabilidade pelo bom emprego destes recursos não pode ser transferida para as “vias regulares”. Sua responsabilidade como mordomo é individual e intransferível. O mordomo pode transferir o dinheiro, mas não a responsabilidade.

“Deus chama para um reavivamento e reforma. As "vias regulares" (no inglês "regular lines") não têm feito a obra que Deus deseja ver realizada. Que o reavivamento e a reforma façam mudanças constantes. Algo tem sido feito nesta linha, mas que o trabalho não pare aqui. Não! Que toda escravidão seja quebrada. Que os homens despertem e percebam que eles têm uma responsabilidade individual. - Ellen G. White - Spaulding e Magan. pág. 175 - Grifo Acrescido.

Este trecho diz que devemos despertar, acordar e perceber que a responsabilidade da obra é individual. As vias regulares (Associação/Missão) não estavam funcionando, não estavam fazendo a verdadeira obra que Deus gostaria, então Ellen White chama a atenção de cada adventista para que se conscientize de sua responsabilidade individual e intransferível.

A centralização dos recursos financeiros na mão de uns poucos privilegiados é a causa de vários problemas na sociedade. O Senhor, o Deus de Israel, sempre estabeleceu formas de diminuir esta desigualdade entre o Seu povo e inibir a centralização de recursos (Ver Levítico 19:9 e 10; 25:13 e 14). Este princípio de evitar a centralização é reforçado hoje por Deus através da orientação de Sua serva:

A Sabedoria divina deve obter espaço para atuar. Está para avançar sem pedir permissão ou apoio daqueles que têm tomado para si um poder régio. No passado um grupo de homens tentou tomar em suas próprias mãos o controle de todos os recursos vindo das igrejas e usaram estes recursos de forma desproporcional, construindo prédios caros onde grandes edifícios eram desnecessários e deixaram lugares necessitados sem auxílio e encorajamento. Eles tomaram sobre si a grave responsabilidade de retardar a obra onde ela deveria estar avançada. ...Em poucos lugares, cinco vezes mais dinheiro do que o necessário foi investido em edifícios. A mesma quantidade de dinheiro usada no estabelecimento de instalações em lugares onde a verdade nunca foi introduzida teria trazido muitas almas ao conhecimento da salvação em Cristo.” - Ellen G. White - Spaulding e Magan, pág. 174. - Grifo Acrescido.

Que citação impressionante! Não é exatamente a mesma situação que vemos hoje? É o passado se repetindo! As Associações e Missões centralizam todo o dízimo de todas as igrejas e estas igrejas pouco benefício recebem. No capítulo I falamos sobre o princípio da reciprocidade relacionado ao dízimo, mas parece que este princípio não está sendo observado hoje. Dinheiro do sagrado dízimo é hoje gasto prodigamente na construção e reforma de luxuosas sedes administrativas para as Associações e Uniões. Este dinheiro deveria ser investido em obreiros missionários com dedicação integral para pregar aos que não conhecem o amor de Deus. O dinheiro sagrado deveria ser utilizado para a aquisição e distribuição de material evangelístico em grande escala. No entanto a história se repete: os recursos financeiros se concentram na mão de poucos e isso gera as desigualdades. É por esta razão que Ellen White aprovava e patrocinava com o seu dízimo o trabalho independente que seu filho realizava no Sul dos Estados Unidos:

“O Senhor tem abençoado o trabalho que J. E. White tem tentado fazer no Sul. Deus permite que vozes que têm se levantado tão rapidamente para dizer que todo o dinheiro investido na obra deve passar pelo canal designado em Battle Creek não sejam ouvidas. As pessoas para as quais Deus tem dado Seus recursos são receptivas a Ele somente. É privilégio delas dar assistência e auxílio direto às missões. É por causa do mau uso dos recursos que os campos do Sul não se demonstram melhores do que estão hoje”. - Ellen G. White - Spaulding e Magan, pág. 176.

Este texto revela que na época de Ellen White algumas vozes se levantaram dizendo que todo o dinheiro da obra deveria passar pela administração da Associação Geral em Battle Creek. Ellen White diz que através da providência de Deus, estas vozes que sugeriam centralização do dinheiro através destes canais não foram ouvidas. Ela também escreveu que é um privilégio poder dar “auxílio direto” às missões. Por “auxílio direto” podemos entender o investimento em evangelização sem a presença de intermediários. No final do texto acima, Ellen White novamente menciona a má utilização dos recursos como causa das dificuldades dos campos do Sul. Se os recursos fossem bem utilizados, diz ela, a situação no Sul estaria bem melhor. Como estaria a situação da Igreja Adventista do Sétimo Dia se todo o dízimo recebido pelas Associações se transformasse em "assistência e auxílio direto às missões"?

O Que Ellen White Escreveu Sobre o Emprego do Dízimo?

1) De acordo com o Espírito de Profecia, como deve ser empregado o dízimo?

"O dízimo é sagrado, reservado por Deus para Si mesmo. Tem de ser trazido ao Seu tesouro, para ser empregado em manter os obreiros evangélicos em seu labor..." - Ellen G. White - Eventos Finais, 69 - Compilado de Obreiros Evangélicos, 226 e 227.

As instituições que são os instrumentos de Deus para levar avante Sua obra devem ser sustentadas. Igrejas devem ser construídas, escolas estabelecidas e casas publicadoras equipadas com equipamentos para fazer um grande trabalho na publicação da verdade a ser enviada a todas as partes do mundo. Estas instituições são ordenadas por Deus e deveriam ser mantidas pelos dízimos e ofertas voluntárias. (Testemonies, vol 4, pág. 464)

2) O dízimo deveria ser utilizado apenas para sustentar pastores?

"O dízimo deveria ir para aqueles que labutam na palavra e doutrina, sejam eles homens ou mulheres”.- Ellen White - Manuscript Releases. Vol. 18, pág. 67

3) Até mesmo as mulheres podem ser pagas com o dízimo?

"Há esposas de ministros, as irmãs Starr, Haskell, Wilson e Robinson, que têm sido obreiras consagradas, diligentes e sinceras, dando estudos bíblicos e orando com as famílias, ajudando com seus esforços pessoais tão bem sucedidos como os de seus esposos. Essas mulheres dedicam todo o seu tempo, e lhes é dito que não recebem nada por seus labores porque seus esposos recebem salário. Digo-lhes que continuem e que todas essas decisões serão revistas. Diz a Palavra: 'Digno é o trabalhador do seu salário' (Luc. 10:7). Quando for tomada qualquer decisão como esta, protestarei em nome do Senhor. Sentirei ser meu dever criar um fundo do dinheiro do meu dízimo para amparar a essas mulheres que estão realizando uma obra tão essencial como a dos ministros, e reservarei esse dízimo para a obra do mesmo ramo que a dos ministros, que são caçadores e pescadores de almas." - Ellen G. White, Manuscripts Releases, Silver Spring, MD; E. G. White Estate, 1990, vol. 12, págs. 160-161.

4) Posso usar o dízimo para fins escolares ou para a colportagem?

"Um raciocina que o dízimo pode ser aplicado para fins escolares. Outros argumentam ainda que os colportores devem ser sustentados com o dízimo. Comete-se grande erro quando se retira o dízimo do fim em que deve ser empregado - o sustento dos ministros. Deveria haver hoje no campo uma centena de obreiros bem habilitados, onde existe unicamente um". - Ellen G. White - Obreiros Evangélicos, pág. 226.

5) Posso usar o dízimo para algum outro propósito além de sustentar os obreiros que trabalham no campo?

"A luz que o Senhor me tem dado sobre este assunto é os meios da tesouraria para o sustento dos ministros nos diferentes campos não devem ser usados para nenhum outro propósito”.- Ellen G. White, Special Testimonies for Ministers and Workers, Battle Creek MI; 197, vol. 10, págs. 16-18.

6) Posso usar o dízimo para ajudar os pobres?

"As viúvas e órfãos deviam ser sustentados pelas contribuições da igreja. Suas necessidades não deviam ser providas pela igreja, mas por donativos especiais. O dízimo devia ser consagrado ao Senhor, sendo usado sempre para o sustento do ministério”.- Carta 9 de 1899 - Citado em Beneficência Social, 275.

7) Posso devolver o dízimo para o caixa da igreja local a fim de financiar a reforma da igreja?

"Seu povo de hoje precisa lembrar que a casa de culto é propriedade do Senhor, e que deve ser escrupulosamente cuidada. Mas o fundo para essa obra não deve provir do dízimo". - Obreiros Evangélicos, 226.

8) Freqüento um grupinho bem pobre. Estamos tendo dificuldades de manter nossas atividades e as despesas do nosso salão. Estamos pensando em fechar as portas. Posso devolver o dízimo para o caixa da igreja local a fim de financiar a manutenção do grupo?

"Há casos excepcionais, onde a pobreza é tão extrema que a fim de assegurar o mais humilde lugar de adoração, pode ser necessário utilizar o dízimo. Mas esse lugar não é Battle Creek ou Oakland." - Ellen G. White, Special Testimonies for Ministers and Workers, Battle Creek MI; 197, vol. 1, págs. 189.

9) Em algum momento Ellen White afirmou que a única forma correta de dizimar é enviando os recursos para a Associação/Missão?

“O Senhor tem abençoado o trabalho que J. E. White tem tentado fazer no Sul. Deus permite que vozes que tem se levantado tão rapidamente para dizer que todo o dinheiro investido na obra deve passar pelo canal designado em Battle Creek não sejam ouvidas. As pessoas para as quais Deus tem dado Seus recursos são receptivas a Ele somente. É privilégio delas dar assistência e auxílio direto às missões. É por causa do mau uso dos recursos que os campos do Sul não se demontram melhores do que estão hoje.” - Spaulding e Magan, pág. 176.

“Os métodos de Deus não podem ser impedidos pelos métodos dos homens. Há aqueles que têm recursos e aqueles que darão pouca ou grandes somas. Faça com que este dinheiro vá direto para a parte  mais carente da vinha. O Senhor não especificou nenhum canal através do qual os recursos devam passar.” - Spaulding e Magan, pág. 498.


[1] Citado por Arthur L. White em "Ellen G. White - Mensageira da Igreja Remanescente", pág. 115

[2] Citado por Arthur L. White em "Ellen G. White - Mensageira da Igreja Remanescente", pág. 114

[3] Testemunho para Ministros, pág.522 - Apêndice da pág. 27

[4] Testimonies, Vol. 1, pág. 190 e 191.

[5] Testimonies, Vol. 1, pág. 545. - Citado no artigo “Ponderações sobre a  Questão do Dízimo” de Azenilto G. Brito.

[6] História da Nossa Igreja, pág. 228.

[7] Citado em Eventos Finais, pág. 45.

 

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